Sou Maria Aparecida Nunes Barbosa da etnia Xacriabá. Moro na aldeia Barra do Sumaré II, município São João das Missões, Minas Gerais. Sou professora há 15 anos na minha aldeia. Sou estudante universitária da UFMG.

Há 3 anos que faço pesquisa sobre conflitos e sobrevivência do povo Xacriabá e municípios vizinhos, antes dos anos 1970.

Pensei em criar esse blog para divulgar meu trabalho e de outros colegas e dar oportunidade para outras pessoas conhecerem um pouco sobre as histórias do nosso povo, que a maior parte está só na mente dos mais velhos que eles estão levando com eles.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Dois braços em uma mão


Dois braços em uma mão
Como chegamos na universidade
Na minha reserva, antes de 1995, só tinha quatro professoras, que atendiam a quatro aldeias das 30 que somos. O analfabetismo era muito grande entre os jovens e adultos, somente 5 % dos Xacriabá conseguiam ler e escrever.
Com a iniciativa das lideranças anteriores e atuais e das pessoas que se interessam pela causa indígena, foi criado o Programa de Implantação de Escolas Indígenas em Minas Gerais, PIEI-MG. Através da Funai conseguimos parceria com a SEE, a UFMG e o IEF. E, em 95, iniciou a primeira turma do curso de magistério, com a duração de quatro anos divididos em oito módulos.
Antes mesmo de terminar o curso do magistério, as lideranças e caciques de todas as comunidades já tinham demandado vagas na UFMG para os indígenas. Logo depois da diplomação da primeira turma, em 2000, foi apresentado novamente demandas ao acesso à Universidade.  Como na nossa aldeia já tinham muitos alunos que chegavam na oitava série e não tinham como continuar estudando, apenas alguns conseguiam estudar no Município vizinho, São João das Missões. Aí que a cobrança foi mais forte, os alunos estavam parados sem ter como continuar a estudar e, como a decisão da universidade estava lenta, os professores do curso de magistério do PIEI deram um curso de capacitação para os professores indígenas começarem o trabalho com o ensino médio em algumas aldeias. Com essas necessidades e demandas, a universidade ofereceu oficinas em algumas áreas para a gente conhecer melhor, aí as lideranças, professores do projeto e a universidade sentaram juntos e discutiram a criação de um projeto de curso diferenciado dentro da universidade para professores indígenas.
Iniciamos em Maio de 2006 o curso de graduação de Formação Intercultural de Educadores Indígenas com uma turma de 142 professores de oito etnias. Hoje, já estamos na metade do curso que tem duração de cinco anos. Com toda essa iniciativa de trabalhar com os alunos no ensino médio, antes mesmo de começar o curso superior, rendeu muitos frutos. Hoje, os alunos que fizeram o ensino médio dentro da aldeia já estão exercendo cargo de professores e até mesmo secretário de saúde.

Um comentário:

  1. Cida, parabéns pelo blog. vou segui-lo sempre com muito carinho e admiração. abraço
    ines

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