Sou Maria Aparecida Nunes Barbosa da etnia Xacriabá. Moro na aldeia Barra do Sumaré II, município São João das Missões, Minas Gerais. Sou professora há 15 anos na minha aldeia. Sou estudante universitária da UFMG.

Há 3 anos que faço pesquisa sobre conflitos e sobrevivência do povo Xacriabá e municípios vizinhos, antes dos anos 1970.

Pensei em criar esse blog para divulgar meu trabalho e de outros colegas e dar oportunidade para outras pessoas conhecerem um pouco sobre as histórias do nosso povo, que a maior parte está só na mente dos mais velhos que eles estão levando com eles.

terça-feira, 12 de abril de 2011

ENTREVISTA COM SENHOR ADELINO

ENTREVISTA COM SENHOR ADELINO
Idade: 66 anos
Aldeia: Barra do Sumaré

Desd’o meu conhecimento, de 44 pra cá, eu conheci muitas coisas não tinha,: não tinha cacique, não tinha liderança, que é o representante que eles falam hoje; tinha era chefe. O chefe era um sozinho, mandava na reserva toda. As confusões era menas. Esse chefe sozinho resolvia tudo. E quando tinha qualquer uma coisa para resolver, ele ia em Brasília, ai nós ajudava ele, porque não tinha condições pra ir, tinha que ir a pé, então por água, aí cada um dava uma ajudinha conforme podia dar. Viajava um mês, dois, quando chegava, trazia qualquer solução. Não era viagem de todos os dia não, todo ano ia uma vez, ai ficava.
O chefe na época, que eu conhecia, era Germano, depois de Germano, passou pra Pedro, filho do Germano, e tinha um ajudante que era o que viajava mais, era Estevo Boca de vaca, o companheiro dele, que viajava na época. Depois disso, foi indo o velho Pedro, o chefe faltou, aí foi confusão pra nós, ficou sem chefe, aí tinha um moço muito sabido, não era nem índio. Era o genro do Pedro que era o chefe, pegou a doação e pegou trabalhano até que ele foi em Brasília ou em Belo Horizonte, um lugar assim, o povo descobriu que ele não era índio, aí tomou a doação dele e guardou por lá, aí foi ruim pra nós, aí ficou, ficou, aí agora nós foi sofrer.
Enquanto isso, os posseiros achou esta vaga e caiu pra dentro, comprano terras, aí não tinha mais a doação, não tava mais na aldeia, ai a doação ficou segura lá em Brasília, enquanto isso, nós aqui não tinha quem ia lá procurar.
Depois pareceu um, o Rodrigo, era um rapaz novo. Ele lutou por isso aí, lutou um bocado de tempo, e nós ajudava ele, egualimente ajudava o outro.
Juntava o povo da aldeia tudo e ajudava, ele era fraco, sufria e ia lá, até que liberou de novo, mas até liberar isso aí já estava cheio de fazendeiro. Os índios já tinha saído a maioria, que os fazendeiro já tinha escuraçado. Um posseiro comprava um harqueire de terra e cercava a área quase tudo, e foi indo assim, nós sofria para intimidar os povo que não queria vender, trazia polícia militar, fazia aquela pressão, os que tinha medo ficava fora, os outro enfrentava briga, e foi essa luta até que a gente venceu. Rodrigo tentou e venceu. Pra nós, ele trabalhou muitos anos. Até nessa época de hoje.
Aí, antes disso, tinha o Almerindo, que era o chefe do vendedor dos posseiros, vendia terra p’os posseiro e apoiava ele aí. A casa dele fazia com coisa que era até um tipo de um posada de policiamento. Era igual um tipo de quartel. Ali era polícia pra todo lado intimidando os índio, os índio afastava, mas depois chegava de novo. Achava que aquilo não estava certo, e chegava de novo lutano. Aí tinha época que nós, antes deles, chegava, nós juntava os índio todo mó de eles não entrar nas aldeias. A mó de não entrar nós tapava as boca nas estrada, eles destapava, e era aquela luta, até o finado Rodrigo mais Emílio, Lorindo e o finado Roso era os mais pressiguido. Nós tapava as estrada para eles não entrar, para não judiar com os índios, eles chegava e destapava, outras vezes botava a polícia para fazer nós destampar, aí a gente destampava e tornava com isso, não esmorecia, até que venceu. Tapava a estrada para os posseiro não judiar com os índios, que eles entrava para intimidar, e os índios saia tudo. Então, a gente tapava para eles não entrar, para não esguaritar os índios e sair fora da aldeia. Enquanto eles não entrava, todos os índio tava permanecendo na aldeia, aqueles que tinha mais coragem ia enfrentando e fazendo a defesa dos outros. Aí foi, até que os posseiros, com toda essa luta, até que teve um acontecimento dessa luta: o finado Roso morreu. Aí foi que tomou uma providencia que afastaram eles. Nessa época, num foi fácil não para afastar estes povos.
 
  • O ZÉ CAITANO, ELE ERA ÍNDIO OU NÃO ERA?
Não, ele não era índio, mas ele era genro do Pedro. Só estava tomando frente porque queria tentar ajudar, mas não aceitou não, sobre conviver podia, mas para mandar essa causa aí não podia.

  • NESSA ÉPOCA COMPRAVA ALGUMA COISA LÁ FORA, OU ERA TUDO AQUI DENTRO MESMO?
É, bom, comprava coisas lá fora, o que não tinha na aldeia, o que faltava na aldeia, comprava lá fora. A gente só convivia aqui dentro da aldeia, porque nesse tempo não tinha estrada, não tinha condução de fora para trazer nada, quando os índio precisava de alguma coisa, saia lá fora, ia à cavalo ou à pé, arrumava uma coisinha lá e trazia, mas assim, levava também muitas coisas que lá não tinha, que nem toicim, vendia lá e comprava sal, café, era o que comprava lá. Fazia a troca das coisinhas de cá por as de lá.
Nessa época, na cidade, comprava tudo que nós fazia, comprava algodão, comprava momona e lá nós comprava o café e o sal e outras coisas que estava precisano, é, era assim. 

  • TINHA CONFUSÃO ENTRE OS ÍNDIOS, ÍNDIO CONTRA ÍNDIO?
Não, não tinha não. Os índios, de premeiro, não tinha confusão que tem hoje. Os índios, de premeiro, tinha confusão com o pessoal de fora. O pessoal de fora que eles não conhecia. Com o pessoal de fora, qualquer coisa eles brigavam, porque eles estranhavam aquele povo. Eles não considerava o povo de fora igual o povo da tribo; ali era um grupo, aquele grupo era reservado. Agora chegava uma pessoa de fora, que às vezes fosse amigo de um que quisesse o bem, então, se ele agradasse um, estava agradando todo mundo e, se ele desagradasse um, desagradava todo mundo.
E hoje não está assim, o pessoal hoje já não está assim. O pessoal hoje já tem aldeia, aí que inimigo já briga um com o outro, às vezes por causa de pessoas de fora, que coisa! Tem horas que dá mais apoio uma pessoa de fora. E misturou tudo, isso aí não está sendo bom igual era não, porque aquele não está preservando o grupo, igualimente era não. O índio não tinha confusão com o pessoal de fora, aí de um tempo pra cá foi misturando, depois dos posseiros pra cá foi que teve essa revolta, índio contra índio, contra os de fora também, tá igual, a briga com os de fora está sendo pelo mesmo motivo. Hoje já não tá um grupo separado igualimente era não. De muito deferençou, não sei porque rendeu, mas o pessoal estava misturado com os branco, porque na época o branco e os índios viviam fora do branco, era os  grupos, só era índio no grupo do índio, hoje está tendo mais branco do que índio.

  • O SENHOR SABE POR QUE O XACRIÁBA FICOU MISTURADO?
Pra misturá veio pessoal que não era índio, veio da Bahia, veio de Cochá, veio de vários lugares misturando com os índios. Chegava ali, os índio, o índio ia agradando aquele grupo ali, os índio já passava a ser amigo. Naquilo foi misturando, aí, depois que misturou, outros chegava saber notícia da área, já vinha era assim.

  • E AS ROÇAS, COMO QUE FAZIA?
Aquela roça colocava e plantava feijão, abórbora, mandioca, plantava milho, batata e vevia disso aí. Roçada tinha bastante pessoal. Gado, gado, os índio não criava, quem passou a criar gado foi o pessoal que chegou. Na época, chegava, misturava, aí ia criando. Mas o índio mesmo não criava não. Aí depois que foi misturando os índio, foi misturando e comprando gado. Até que chegou a época que é hoje, que tem fazendeiro de todo tipo, o gado foi criado quando o pessoal de fora começou a chegar aqui, antes ninguém criava gado não. Os primeiro criador de gado aqui foi os não índio. Aí os índio foi vendo aquilo e foi aprendendo, até teve a oportunidade de criar tombém. Mas veio criar memo depois dos posseiros pra cá.
E outra! Aqui dentro da reserva não tinha um índio que tinha carro, não tinha nada, não tinha casa boa, hoje o índio está tendo casa boa e carro e tudo, o índio está sendo dono de carro e de tudo, depois dos posseiros pra cá, antes disso aí não tinha nada, mes aqueles que podia mais comprava era um cavalo, mas era! Mas era alguns, os outros andava mais era a pé, era mais a pé, rodava tudo a pé, não tinha cavalo não, alguns tinha, mas rodava mais era a pé.

  • COMO ERAM AS CASAS?
As casas eram de paia, casa de inchimento coberta de casca de pau, tinha um capim sapé, era o capim cobridor de casa, cobria casa de paia de coco, as casa que cobria era desse aí. Tirava casca de pau e cobria as casa, aquilo era bom.
As panelas era de barro, os pratos de barro, aquelas candeinha de lumiar era feita de barro, ponhava um pavi’i dentro, moiava com azeite de momona, aquilo fazia festa, tudo com essa candeia, lumiava a festa todinha com essa candeinha de barro com pavi’i de algodão molhado com azeite de momona. Hora que dava um vento, pagava tudo, daí vinha com um tição cendeno.
A sonfrona de toque era uma sonfrona de oito baixo, falava Pé de bode, aí tocava umas violas, umas caixas de couro, batendo, e aquilo era uma harmonia. O povo cantava e dançava, e era três dias de festas naquela harmonia. Nessa época, dessas festas aí, a pinga tinha, mas não era toda festa que arrumava. A pinga tinha, mas era muito difícil; os ‘lambiqui era muito longe e acontecia que era um sozinho, a pessoa arrumava um litro de pinga e fazia 20 litros de vinho de sambaíba. Tirava a casca lá do pau do mato, e fazia o vinho, já tinha o pau preparado para fazer vinho. A pessoa já tirava e cozinhava, fazia aquele conzimento e temperava na pinga, aí fazia o vinho e todo mundo bebia, viche! Era uma harmonia doida, o vinho era gostoso, tinha vinho de jatobá, tinha as plantas de fazer as bebidas. Tinha pinga mesmo, o pessoal pegava as pingas, aí bebia, não era como hoje não, eles trazia uma lata, tinha 20 litros, eles ponhava lá dentro do terreiro, cada um chegava lá com uma cuia, despejava um pouco e todos bebia, mas todos que bebia tinha que ter sua cuia, não ia beber na cuia do outro não, que ele não dexava! (risada). Quem quisesse beber, tinha que levar a cuia, se não levasse, não bebia, porque não tinha onde beber, não tinha vazia. Hoje não, um copo, o pessoal de uma festa bebe num copo só, e no tempo dos índios lá, não bebia não. Era amigo de todo mundo, mas cada um tinha sua cuia de beber. 

  • E AS FESTAS?
As festas de casamento, quando casava uma moça, era três dias de festa. E quando era um festejo assim de um santo, aí era um dia pro outro mesmo. Aí quando era uma novena, como o festejo de Santa Cruz, era onze dias de festa, todo dia festa, todo dia festa, começava dia 23 terminava no dia 03. E o festejo das Noites no mês de abril, que começa dia 23 e termina no dia 03 de maio. São dois festejo. O festejo de Maria é 31 dias de festa, começa no dia primeiro termina dia 31 de maio, é trinta dias de festa. Essa ainda tem na aldeia do Sumaré e no Brejo ainda tem. Tombem só está existindo essas. Ainda tem os festejos de reis das folias; que eu conheço desd’o começo, as Folias de Reis. As Folias de Reis era festejadas desd’o começo. 

  • E A SAÚDE, QUAIS AS DOENÇAS QUE TINHA MAIS, E QUAIS REMÉDIOS CURAVAM?
É, a doença que mais prejudicava neste tempo, que a gente já tinha medo dela, era o sarampo, varíola, catapora, essas aí e a febre amarela, tinha uma maleita, essas aí era as doenças que existia de primeiro, só era essas era as perigosas, só era essas. Mas aí a gente já sabia do remédio e tinha as ervas armagas, as pessoas ia lá e fazia uma garrafada, tomava e sarava a cezão.
E a de sarampo e varíola já tinha o remédio preparado, também as pessoas não procurava remédio para essas doenças, nem chegava a pessoa adoecer, a pessoa já corria lá com o remédio e já fazia e sarava, o único remédio que nóis procurava fora era pra febre amarela, era uma pírula contra ela, era uma pastinha preta. Mas ela era feita do remédio do mato mesmo. Essa nós comprava lá fora, também era só. Os outros nós fazia aqui no mato. Esses aí já cortou também e acabou e nós continuamos no mesmo que estamos até hoje. O remédio nosso era esses. 

  • QUANDO MORRE AS PESSOAS, HOJE MUITAS PESSOAS NÃO GUARDAM LUTO. E ANTIGAMENTE?
De primeiro, quando morria uma pessoa, às vezes o pai da casa, no sétimo dia, todo mundo vestia de preto, até a casa era coberto de luto. Se fosse o homem, ponhava o luto na porta da frente, se fosse a mulher, ponhava o luto na porta da conzinha. E os parentes, a mulher era luto fechado um ano, depois de um ano, aí ela já podia vestir uma blusa só branca, com um ano podia vestir só branco, de vermelho ela não vestia mais nunca. E a parentaia, luto fechado 6 mês, os parentes era uma divisa de 6 mês; primo, sobrinho, tudo era uma tira preta na camisa, era a divisa; e a mulher, um ano de luto fechado, os irmão, um ano de luto fechado. E aquelas pessoas, sobrinho, que era a divisa. E quando morria uma pessoa, passava um ano ou dois anos, todas vezes que encontrava a parentaia, que alembrava, todo mundo chorava. E hoje, nem em roda da pessoa que morre ninguém esta chorando. De primeiro, só era encontrar, chorava. O luto hoje é alguns que põem. De primeiro a roupa era tingida de lama. Hoje a gente vai contar pro povo, acha que é mentira. Mas é verdade. 

  • MAS TINHA A LAMA PRÓPRIA?
É, tinha a lama própria, é o mussambé, para tingir a roupa.
Na época, a Caboca, antes dos posseiros, antes dos fazendeiros tomar conta da área, tava aqui na reserva.  Ai a Caboca afastou. O que afastou ela mais foi o povo de fora, o povo de fora deu para invadir a área, ela foi afastando. Mas, de premeiro, quando tinha só índio, ela visitava todos os índios que tinha na aldeia, ela chegava, ela subiava, a gente já sabia onde ela estava. “Onde que a Iaiá está? Tá em tal lugar”. Ela avisava onde ela estava na aldeia, ela subiou que ela tava aqui! Outra hora ela apresentava as pessoas, todo mundo dava notícia dela. Depois que foi chegando o pessoal de fora, foi tomando conta, ela foi afastando.
Nessa época, se entrasse uma pessoa de fora, ela pegava e dava uma surra nele. Se entrasse, ele não saia, só era entrar sem ordem, levava uma surra e saía. Até os primeiros carros que entrou aqui, os carros de invasores de terras que tentou entrar duas vezes, não entrou. Chegava no Juco, ela segurava o carro e não rompia, eles achava que tava atolado, mas o carro não rompia, cavava o chão e tudo, mas o carro não rompia. Pra trás voltava, mas prá cá não. Iaiá segurava ele para não entrar na reserva, aí outro veio de lá e tentou passar, ele passou, mas não rompeu nadinha e quebrou a perna, quebrou tudo, aí voltou, mas só que não conseguiu romper não. Quando ele estava, tinha a lapa tapada, coberta, até hoje essa lapa tá coberta, mas um coqueiro de três galhos, que ninguém via ele lá, só algumas pessoas de ciência que conseguia ver ele. Hoje não, todo mundo vê ele lá, de primeiro não via ele não, era invisível, hoje, depois que o povo saiu com umas certas coisas, na saída dela, acabou o encanto dela, exemplo: o coqueiro de três gaia. Todo mundo que vai lá vê ele, todo mundo dá notícia dele. Fica na aldeia lá no Brejo, a lapa tapada tombém fica é lá; mas essa ninguém não vê ela não, ainda é encantada.
Vai mudando tudo, vai passando o tempo, o povo vai mudando, o jeito do povo. Os índios é unido, os que é índio, ele não tem orgulo não. Hoje o que eu acho deferente é o outro, que está desmantelando o índio. O índio desmantelou, mas o índio foi com a política, é depois da política, separou o índio. O índio não pode ter grupo separado, o grupo de índio é um sozinho. Hoje, o índio está separado em todo grupo, então é isso aí. O CIMI entrou ai tombém, que já fez muita coisa. A primera briga que fez, o índio não tinha esse intenção de brigar, foi o CIMI que fez a pressão, aí começaro essa violência, foi, mais foi no tempo que o CIMI deu aquela cobertura, que tinha pessoa que já tinha influência e aí achou aquela cobertura. Aí foi o CIMI. A pressão sobre briga, às vezes fez um lado, mas por outro não fez. Foi bom por um lado, mas por outro já não foi, porque o melhor mesmo é a união. Depois disso pra cá, o CIMI já ponhava que tinha que brigar mesmo, as vês tinha índios que não queria brigar, aqueles que já revoltava com aqueles que não queria, já foi dando certo, não foi uma coisa assim de uma vez, mais divagar, divagar, desmantelando aos poucos, às veiz uma casa tirando um tijolo nela, hoje a gente não dá fé, mas vai tirando três, quatro, aí a gente vê que está desmantelando, não desmantela de uma vez, é divagar. Então se não tivesse agressão à vida dos índios, estava o mesmo que era, agressão vivida e nem a separação de político está separando o grupo do povo. 

  • E COMO ERAM OS TIPOS DE ROUPAS E CALÇADOS?
Os carçado de primeiro era o índio mesmo que fazia. O índio vei calçar e vestir e alimentar de alimento de branco foi depois desse tempo dos posseiros pra cá.
Antes disso aí, o índio calçava os calçados era chinelo de couro. Tinha aqueles, não era todos não, aquele que era mais experiente, pegava os couros e punhava aquelas correias e fazia o chinelo, outros costurava e fazia, ficava era bonito. Aquilo era encomendado, fazia e vendia chinelo para aquele povo todo, ia pra festa e tudo, aí, depois que os brancos foi chegando, os não índio foram misturando, vieram com os sapatinhos pretinho lá de fora, outros amarelo, aí foi achando bonito e foi calçando tombém, aí até que costumou, mas muitos ainda tem as precatinhas de couro que fazia. Eu mesmo ainda faço, não chamava não era de chinelo não, era de precata, o sapato não era sapato, era botina; das mulheres era sapatina.
A cama era todas de madeiras e dizia de cate. Hoje, eu ainda considero as camas que o índio faz de cate e as que é feita lá fora que o branco faz pode ser a mesma cama, mas o nome é outro. 

  • E AS ROUPAS, ERAM TECIDAS AQUI MESMO?
É, as roupas era tecida aqui mesmo, as mulheres pegava o algodão, fiava, já tinha a roda de pau de fiar, fiava e fazia aquele novelão de linha. Outra hora fiava no fuso tocado pela mão e a roda é tocada pelo pé e a mão, na roda fazia a linha de urdir, de fazer o tamanho de quantas metragem de pano, quantas varas de panos ele queria, não era metro não, era vara. E o fuso ia fiar para tecer aquela quantidade. Era dois tipo de linha, ai fazia roupa para homem, pra mulher, fazia cuberta para embruar, a roupa de casa fazia tudo no tiar, vai tecendo até fazer o pano, era difícil, só comprava pano lá fora, aqueles mais forte, que tinha um dinheirinho, os que não tinha, vestia a roupa que eles mesmo fazia, é! Era bonita, fazia branca, fazia de listrinhas, ia na festa e dançava a noite inteira (RISADA)!

  • COMO QUE FAZIA AS LISTRAS DO PANO?
As listras eles tirava a tinta anil, que é uma erva que chama anil, tirava de corante uma tinta mais bonita, assim azul, conforme a cor da tinta, se quisesse a tinta verde anil, se quisesse preta era de corante, se quisesse vermelha era de aruncum. Já tinha as tintas de tingir, se quisesse fazer as roupas tudo de azul, fazia, ponhava numa tinta só, se quisesse de vermelho tombém fazia, que era o oruncum, e era assim que o pessoal vivia, assim.

  • HOJE USA SHAMPOO, CREME DE CABELO, E ANTIGAMENTE?
De primeiro, o pessoal aturava cente e tantos anos, tinha vezes que nem um comprimido não tomava, bebia era uma erva do mato, sentia alguma coisa eles já sabia a erva que tinha lá, rancava e bebia, ele morria com centes e poucos anos, não tinha um fio de cabelo branco na cabeça. Hoje as pessoas, deu de vinte anos, já está com a cabeça branca. Tombém o que eles usava no cabelo era: eles pegava, tirava o óleo da momona e cebo de carneiro e flor de maria angerca, aí fazia aquela pomada, usava de porco e cebo de gado, gordura de porca, daqueles porcos bem preto cabeludo, fazia aquela combuca daquela gordura e batia bem batidinha, tirava a fulor de maria anjerca e ponhava dentro, viche! Aquilo era um perfume, que eu vou falar! O perfume era esse, ninguém comprava perfume lá fora não, o perfume era caçar era as ervas, as fulôs das ervas para perfumar, aquele era um perfume que não acabava, perfume muito saudável que eu vou falar! Não era comprado que nem hoje não. Hoje o pessoal largou o perfume da natureza, é, estão comprano lá fora, por isso que os cabelos estão caindo tudo. De premeiro não caia cabelo não, o cabelo era seguro, não alvejava. É, era assim, o remédio era esse e lavava era com sabão de dicuada e casca de mutamba.
Quando a pessoa tava com febre ou tomasse algum remédio ou a mulher ganhasse nenê só lavava a cabeça com conzimento do mentraste, podia lavar, não sentia nada. Hoje em dia a mulher não faz banho de nada, banha é no chuveiro lá (risada), com shampoo. De premeiro não tinha nada de shampoo não, banhava era no conzimento do mentraste. O perfume da pomada, todo feito com azeite e flor da angélica. 

  • CIÊNCIA DA LUA
A ciência da lua, de primeiro, quando nós conhecemos aí nós íamos trabalhar. Nós olhava a noite, e saía para plantar naquela roça o mantimento que não tinha que ver a lua. Aí, quando a lua estiver minguante, para algumas coisas é boa, e pra outras não. A lua minguante é boa para plantar feijão, porque ele vai sair mais forte, mas só quando ele grana, aquele mantimento, que ele dá logo, se não ele não atura, caba logo também.
Se a pessoa quiser mantimento para guardar, tem que plantar na crescente até a cheia, aí o mantimento pode guardar, 2, 3, até 4 anos, ele não estraga. Se plantar na lua fraca, logo ele estraga, dá logo, mas estraga logo também. E se a pessoa tirar qualquer tipo de madeira com a máquina, na conserva para durar muitos anos, então tem que consultar a lua. Ele tem que tirar é na crescente até a cheia, que está boa. Se quiser, pode tirar a madeira mais fraca que existe, se tirar ela no dia em que a lua está cheia, conta três dias, aí chama escuro. Essa madeira pode ser a mais fraca que tiver, mas dura muitos anos. E aquela que já é forte, não acaba mais. É conforme a lua, e a madeira sendo boa, se tirar na lua ruim, ela estraga, racha e dá gurgulho. A tendência é acabar. Já ela pode ser fraca, mas tirada na lua boa, ela não acaba não.
Até nós mesmos, o povo hoje que não tem mais ciência, mas de primeiro, nós só cortava o cabelo na lua boa, mó de fortalecer o cabelo e o juízo, mesmo o corpo da pessoa. Se cortar o cabelo de qualquer criatura, gente ou qualquer animal na lua minguante, ele acaba, enfraqueia, ele não rompe nada, não pega carne, enfraqueia, mesmo homem ou mulher. Ele pode ter saúde e se ele começar a cortar o cabelo ou aparar um pouquinho na minguante, ele logo acaba. Na lua crescente para cheia, logo ele fortalece e fica forte e tudo. Só para o pessoal ver, tem uma pessoa, pode ser uma criança mesmo, tem muitas famílias que tem 3, 4 filhos, e outros tem 10. Tem uns que é forte, num dá trabalho, outros é perrengue, fraquinho, pode ver que ele nasceu ou foi gerado no minguante. Não tem carreira pra ele não. Ele nasce fraco e morre fraco. Agora a pessoa gerou ou nasceu na crescente pra cheia, aí ele é forte para o resto da vida. A lua é que governa tudo. O povo acha que não, mas a lua manda em tudo, tudo, tudo. Tudo é mandado pela lua, não tem nada que não é pela lua. O remédio aqui do mato mesmo, nós bebe, essas pessoas que toma remédio do mato não ocupa médico e vive cento e tantos anos bebendo remédio do mato e da natureza. Mas eles não ranca remédio todo dia, tem as épocas de arrancar o remédio. Dizia: “eu vou querer um remédio, e eles diziam: quando a lua tiver boa, eu vou arrancar. Aí, na hora que a lua estava boa, eles arrancavam e traziam o remédio. Se a pessoa procurasse o remédio e não tivesse arrancado porque a lua não estava boa, pois eles não davam aquele remédio, tinha que esperar a lua ficar boa. Hoje, as pessoas pensam que o remédio qualquer hora pode arrancar. O remédio preparado na lua ruim fica ruim, não faz efeito, por causa da ciência, tudo quanto é tem que ter ciência. A pessoa que não tem ciência vive mais mal. Deus deixou para dá tudo certo, né?

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