Sou Maria Aparecida Nunes Barbosa da etnia Xacriabá. Moro na aldeia Barra do Sumaré II, município São João das Missões, Minas Gerais. Sou professora há 15 anos na minha aldeia. Sou estudante universitária da UFMG.

Há 3 anos que faço pesquisa sobre conflitos e sobrevivência do povo Xacriabá e municípios vizinhos, antes dos anos 1970.

Pensei em criar esse blog para divulgar meu trabalho e de outros colegas e dar oportunidade para outras pessoas conhecerem um pouco sobre as histórias do nosso povo, que a maior parte está só na mente dos mais velhos que eles estão levando com eles.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Causo da minha avó


    



Quando el morava lá encimão inriba da quele barranca, não tinha quase ninguém para a gente prosear, quando era denote não tina nem uma zuada era aquele sutilão ai precisava dagente drúmi cedo El mi dava uma ingiriza era um escurão é a gente só escutava a cantiga dos grilos.
Só tina um camim um carerim niquem dava plufe dos zonzoutuos cada um ficava cudano da sua obrigação  ali era um intistimento que não tinha hora para passiar na casa dos zonzoutros. Só tinha alegria na casa que tinha minino ai era aquela zuada danada , quando a mininada dava para zuá ai dava uma a divirtimento para todo mundo.
 Quando a gente saia no camim que ohava para baixo já sabia quem passou primeira porque todos já conhecia a precata dos zonzoutros  e tombem não tinha receio uns dos zonzoutros todos era da mesma famia, rea unidos si um tinha uma muda de roupa todos que precisava vistia era o servidadão de todos não tinha nada separado não.


      Neta:   Tula
Fala de minha vô Adelaide contando causos de antiga mente na adolescência dela.
Eu transcrevi na fala dela,tem algumas palavras que é definiu de entender, mais é engaçadas.







A que não tinha essa encrenca assim de matação de gente não.

   De jeito nenhum. Nem briga não tinha. Eu lembro que nem briga não tinha. Oia, eu vim conhecer esse trem foi uma vez que o finado Miguel fez uma festa. Aconteceu isso. Isso aí eu lembro bem. Que o finado Miguel foi numa festa de Santa Cruz lá no Cabano e, de lá pra cá, ele veio mais o compadre dele, mais o Antônio de Jovino, que morava aí nas Caraíbas, e o Antônio do outro lado, esqueci o nome do home. Foi ataiá no caminho que já vinha emborae eu vou voltar lá?” Aí ele voltou lá. Tava um de lá, outro de cá, todos dois quem nem galo e galinha. Aí ele foi atravessando no meio e disse: “ Me atende compadre, me aten, aí o Miguel foi falou assim: “Cês tá aí conversando, deixa eu ir embora, eu tô com sono, eu vou-me embora”. Aí, ele olhou pra trás: “Vão bora companheiro!” Que ele olhou, só viu faca clareando. Disse: “Meu Pai do Céu! Que é que eu vou fazer? Será qu de compadre!” Quando ele falou assim, o compadre, tá, a faca nele. Aí ele caiu do burro e foi pro brejo. Foi a primeira vez que eu vi isso. Nunca tinha visto. Inteirou duas vezes com aquele menino besta que morava no Moro faiado,nuca tinha visto isso,ta!Bom ai vimos embora a qui pro Brejo.Inteiro duas  com aquele menino , um menino besta que tinha ai do veio Pedro cachiado. Pra ele mi era besta, todo mundo dezia que ele era besta, pegaram o pobre do menino e mataram. Nos já morava no Brejo,eu digo: Ui! E já viu mata gente! Gente mata e bicho não e gente não,daí o povo seguiu.ô! Agora, porque? porque o povo rendeu de mais, e ta muito a loceia, e ta  desobidiente, ta muito desobidiente. De primeiroera bom um fazia uma festa e saia avisano ocê, ai agora conde ocê chegava na quela festa , õ maio alegria,ocê comia tomava café a noite inteirinha, !Esse povo dançano, dançava um ludu, era ludu, não tinha essa coisa não de rasta pé não, era ludu  era um samba, ai assi a noite inteirinha, só tomano café e comeno o que tinha. A li agora o solo saia e ocê tombem até que isguecia que na quela armonia, até uma hora dessa, o povo tava sambano, que era bom.Hoje a gente tem medo até de fazer uma brincadeira,é! Ah!Tempo bom! Da arcansei uma beradinha ainda, arcansei uma beradinha do bom, e

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Conflitos


Na entrevista de seu Adelino, ele fala que antigamente, quando os índios xacriabá não tinham contato com os brancos, não tinham nenhuma confusão entre os índios, tinha muita união, tudo que tinha era dividido entre eles. A desunião começou depois do contato com os brancos .
 “Não, não tinha não. Os índios, de premeiro, não tinham a confusão que tem hoje. Os índios, de premeiro, tinha confusão com o pessoal de fora. O pessoal de fora que eles não conheciam. Até com o pessoal de fora, qualquer coisa eles brigavam, porque eles estranhavam aquele povo. Eles não consideravam o povo de fora igualmente ao povo da tribo; ali era um grupo, aquele grupo era reservado. Agora chegava uma pessoa de fora, que às vezes fosse amigo de um que quisesse o bem, então se ele agradasse um, estava agradando todo mundo e se ele desagradasse um, desagradava todo mundo. E hoje não está assim, o pessoal hoje já não está assim, o pessoal hoje já tem aldeia aí que inimigo já briga um com o outro. Às vezes, por causa de pessoas de fora, que coisa, tem horas que dá mais apoio a uma pessoa de fora, e misturou tudo, isso aí não está sendo bom igual era não, porque aquele não está preservando o grupo, igualimente era não.
O índio não tinha confusão com o pessoal de fora, aí de um tempo pra cá foi misturando, depois dos posseiros pra cá foi que teve essa revolta, índio contra índio, contra os de fora também, tá igual, a briga com os de fora está sendo por mesmo motivo. Hoje já não tá um grupo separado igualimente era não. De muito deferençou, não sei por que rendeu, mas o pessoal estava misturado com os branco, porque na época  os índios viviam fora do branco, era os grupos, só era índio no grupo do índio, hoje está tendo mais branco do que índio”. (Seu Adelino, 67 anos, aldeia Itacarambizinho)
A mistura de negros que veio da Bahia gerou conflito também por causa das diferenças,tinha costumes culturas  deferente.
"Pra misturá veio pessoal que não era índio, veio de Bahia, veio de Cochá, veio de vários lugares misturando com os índios. Chegava ali, os índio, o índio ia agradando aquele grupo ali, os índio já passava a ser amigo. Naquilo foi misturando, aí depois que misturou, outros chegava pra saber notícia da área. Já vinha era assim". (Seu Adelino, 67 anos, aldeia Itacarambizinho)
 “Gaspar chegaria afirmar o desaparecimento futuro dos índios, dão a invasão sempre crescente dos mestiços, oriundos dos português e africanos.’’ (p 29 do Relatório de Ana Flávia)
“O premeiro fazendeiro foi Juca Martizão, foi o primeiro que comprou terreno até dos lado. Vendeu assim de lá daquela grotona lá, ó! Perto no brejinho pra cá não podia, aí era o nosso terreno. Aí quem combateu foi o finado Rodrigue e compadre João também combateu, que foi sempre eles.  Essas vendas de terras que deu briga e deu morte.” (Dona Guardina,  58, aldeia Barra do Sumaré)
“Em alguns causo eles obrigava vender e se não vender, eles tomava”, como fala na entrevista do finado Rodrigues no relatório de Ana Flavia, p 70.
“Aí eles pegaram e jogaram um tanto de gado dentro das rocinhas, e foi rebentando tudo o que a gente tinha, e aí depois Iaiá ajudou, Iaiá, a onça, a Iaiá Cabocla nossa. Ela deu uma sangrada num bocado aí, bebeu o sangue e largou só um montão de folha, matou um bocado, eles assobiaram ô e saiu e cascou debaixo, saiu de repente, pegou o gado e saiu tudo, porque aqui, se a pessoa não souber, ela acontece mesmo é! E depois foi virando essa briga entre os povos, uns entraram e acompanharam, outros não acompanharam. Depois acabou dessa forma. Os posseiros eram os mais ricos e os remanescentes eram os mais pobres”. ((Dona Guardina,  58, aldeia Barra do Sumaré)
Seu Adelino conta que a confusão maior foi a que o CIMI entrou e incentivou os índios a expulsarem os fazendeiros das terras, causou muitas mortes. Antes já tinhas conflitos  com os fazendeiros por vários motivos, como quando colocava roças e quando estava madura, os fazendeiros passavam cerca adentro e colocavam gado para comer, porque as roças dos índios de primeiro não tinha cerca. Aí ia questionar e causava brigas ou cercava o terreno e proibia os índios a não passar dentro. Às vezes, o caminho estava dentro do terreno que eles cercaram. Assim afirmam  D. Guardina e Seu Adelino.
Seu Emílio falou que os conflitos internos que sempre aconteciam entre os xacriabás eram quando tinha um mau entendido e uns davam fins nos outros, de um modo que ninguém dava fé, matava e dobrava e colocava dentro de um pote e guardava. Como conta seu Emílio, confusão maior que tinha era assim:
“A não ser aqueles que eram os maldosos, que enrechava com eles, esses enterrava cá mesmo, dobrava e colocava no pote. Índio mesmo e branco que entrava, eles pegavam e davam remédio para embebedar, aí dobrava e colocava dentro do pote com o fundo pra baixo, mas eram os que queriam invadir. E os que andavam também batendo com a língua nos dentes, eles faziam assim também. Se visse, tinha que ficar calado. Esses eram os crimes mais perigosos que tinha de primeiro”. (Seu Emilio, 59 anos, aldeia Pedra Redonda)
Mas tinha muitas diferenças de uma aldeia para outra porque não foi todas as aldeias que foram invadidas pelos fazendeiros. Em muitas aldeias as brigas que aconteciam eram assim:
“O povo bebia cachaça, tombava para lá, às vezes brigava de murro de cacete. Mas no outro dia ia lá pedir desculpa para o outro: “- Êta cumpadre, desculpa, como foi que aconteceu isso, cumpadre? Foi porque nós bebemos demais.” Ninguém brigava por terra ou por outra coisa”. (Seu Emilio, 59 anos, aldeia Pedra Redonda)
Outro tipo de conflito eram os massacres de viajantes que saiam para resolver problemas da terra e os fazendeiros colocavam tocaia no caminho e arrastavam em cavalos pela estrada, muitos morriam porque machucavam muito e não tinha médico, só remedios do mato, como o  relata  no relatório de Ana Flavia.

Piadas


  • Tinha um homem que vendia toicinho e tinha muito toicinho ardido. Aí ele falou: amanhã eu vou guardar os toicinhos bons e vender só os ardidos. E ele tinha um papagaio que fofocava tudo. De manhã chegou um amigo que queria comprar toicinho. O papagaio falou: o bom ta guardado, esse aí ta ardido. O homem não comprou e foi embora. O vendedor do toicinho pegou o papagaio, tirou todas as penas e jogou no meio do terreiro. Aí ia passando um pintinho pelado, o papagaio perguntou: uá pintinho, você fofocou do toicinho ardido? Porque você está pelado!

  • Tinha um índio que estava perdido na cidade. Estava com fome e resolveu assaltar. Aí ia passando uma mulher, ele falou: me dá a bolsa senão índio mata. A mulher entregou a bolsa. Ele falou: Me dá pulseira senão índio mata. Me dá o sapato senão índio mata. A mulher abaixou para tirar o sapato e deu um pum. Aí o índio disse: me dá buzina senão índio mata!

  • Tinha um garrote que estava doido para passar para outro cercado por causa de uma novilha. Chegando outro garrote perto da novilha, ele resolveu arrebentar a cerca e foi pra perto. Ele perguntou à novilha: como você chama? Eu me chamo Maria das Flores, mas me chamam só de Maria que as flores ficam no campo. A novilha perguntou a ele: como você se chama? Chamo José Badalo, mas me chame só de José, que o badalo ficou ali no arame.

  • Chegou um homem no açougue e perguntou: Você tem pé de porco? Tenho. Você tem focinho de porco? Tenho. Você tem cabeça de porco? Tenho. Moço, então você é bem feinho!

O que é, o que é

O que é, o que é?

O que é, o que é, que nasce em pé e corre deitado?  Chuva

O que é, o que é, que está no meio da estrada e para você passar tem que dar a mão? Cancela, porteira e colchete

O que é, o que é, uma moça fina arrastando uma tripa? Agulha

O que é, o que é, que é feito para andar mas não anda? Estrada

O que é, o que é, anda no sol e não queima, anda na chuva e não molha? Sombra

O que é, o que é, é seu mas quem usa são os outros? Nome

O que é, o que é, você tem e não pode dar para o seu marido, só pode dar para os outros? Filho para batizar

O que é, o que é, tem quatro pernas mas não anda? Mesa, banco, cadeira...

O que é, o que é, que entra dura e sai mole pingando? Macarrão

O que é, o que é, que tem o pé redondo e o rastro comprido? Carro

O que é, o que é, que enche uma casa mas não enche uma mão? Botão

O que é, o que é, de dia é maior do que um homem e de noite é menor do que uma galinha? Chapéu

Por que o porco anda de cabeça baixa? Porque tem vergonha que a mãe dele é porca.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O gato trapaceiro


Há muitos anos atrás, quando os bichos podiam falar, em uma casinha muito simples morava um casal que tinha acabado de se casar.
Perto da casa do casal, em uma árvore grande, estavam reunidos vários gatos combinando o que cada um iria fazer.
Um deles metido a esperto disse:
- Vou atazanar aquele casal que acabou de se casar e estão muito felizes.
Todos aconselharam que ele não fizesse isso, mas  ele muito teimoso insistiu em continuar com sua idéia malvada.

Naquele mesmo dia o gato pôs seu plano em andamento.  O marido que vinha do trabalho ao chegar debaixo da árvore que estavam os gatos avistou um gatinho muito bonitinho que veio logo aos seus pés abanando o rabinho. Você já deve imaginar quem seria o gatinho.
Isso mesmo, você acertou. Era o gato que queria acabar com o casamento do casal. 
O marido Que não imaginava o plano do gato o levou para sua casa, deu comida, água e arrumou uma casinha para ele dormir.
No outro dia saiu para trabalhar e recomendou a mulher:
- Mulher, cuide do gato, dê comida e água para ele.

A mulher foi dar comida para ele, mas o gato não queria comer.
Quando o marido chegou, o gato correu para as suas pernas e ficou miando, miando.
O marido perguntou:
- Mulher, você não deu comida para o gato?
- Dei marido, mas não quis comer.
O marido deu comida para o gato. Ele comeu tudo, não deixou nem uma migalha.
     No outro dia o marido saiu mais uma vez para trabalhar e recomendou novamente:
- Mulher, dê comida ao gato. Quando chegar, eu não quero ver ele com fome.
- Sim marido, darei comida a ele.
Mais uma vez a mulher foi dar comida ao gato e Le se negou a comer.
A mulher ficou preocupada de o seu marido chegar e brigar com ela. Insistiu, mas o gato não quis nem triscar na comida.
Quando o marido chegou, o gato correu novamente para as pernas dele:
- Miau, miau, miau!
- Mulher, você não deu comida a esse gato de novo.
- Marido, ele não quis comer nada.
O marido não acreditou e foi aquela maior briga entre os dois.

O tempo foi passando e o casal brigava cada vez mais.
Certo dia o marido saiu para trabalhar e, ao retornar do trabalho, chegou perto de uma mangueira. Subiu no pé de manga para apanhar uma manga para chupar. Quando foi descendo, percebeu que tinha quatro gatos debaixo da mangueira. Olhou curioso e resolveu esperar para ver o que estava acontecendo.
Naquele meio chegou um gato muito parecido com o que ele havia levado para casa.
A surpresa ainda estava por vir.

Os gatos começaram a conversar.
O homem ficou admirado com o que estava vendo.
Mais surpreso ficou quando o gato que achava parecido com o dele começou a falar:
- Estou bem perto de separar o casal, todo dia eles brigam por minha causa. A mulher vai me dar comida e eu não aceito. Só como quando o marido dela chega. Só dou mais uma semana para eles se separarem! Ah, ah, ah!

O homem esperou todos os gatos irem embora e pensou em dar uma lição naquele gato.
Chegando em casa ele disse:
- Mulher, você deu comida ao gato?
- Dei marido, mas ele não quis comer de novo.
O gato novamente correu para as pernas do marido miando...
- Mulher, eu mesmo vou preparar a comida para esse gato. Nunca mais ele vai esquecer!
Preparou um bom chicote! Chamou o gato, segurou pelas pernas...
- Miauuuuuuuu! Miauuuuuuuu! Miauuuuuuu!...
- Gato trapaceiro, nunca mais você vai fazer ninguém brigar.

E você sabe qual foi o fim do gato...

Está até hoje se recuperando da surra que levou!!!

Acordando o passado


 Acordando o passado
Cida Nunes

 Minhas experiências dentro da sala de aula.

Há 10 anos que trabalho em barraco e embaixo de árvores, já alfabetizei muitas crianças usando este tipo de ambiente. Sempre  percebi que as crianças se sentiam muito  felizes, à vontade, quando estavam em ar livre. Este local foi muito importante no  aprendizado das crianças xacriabá. Elas aprendem muito mais olhando os galhos balando pelo o vento, os pássaros cantando, o vizinho assoviando. Dessa maneira, eles não percebiam que estavam fora do seu quintal, vendo estas coisas a todo instante.

Como estão acostumados em ambiente livre, se mudarem para uma sala  entre quatro parede este aprendizado muda, a alegria acaba e eles se sentem incomodados, sentem-se tristes, e todo momento querem sair da sala, eles sentem como se estivessem cegos, sem nem uma visão.

Hoje, alguns desses alunos que alfabetizei embaixo da árvore já são professores, usam o mesmo ambiente, sentem essa diferença e desconforto dentro de uma sala fechada que é muito diferente do  local que a criança está acostumada.

Corrente de memoria

Corrente de memória
   
Os xacriabás que viveram antigamente era muito diferente de hoje, eles não precisavam de dinheiro  para sobreviverem, sobreviviam do  plantio, animais e caças e suas proprias confecções. Dentro da reserva não tinha mercado e nem um tipo de comercio. As roupas e cobertor eram eles mesmo que tecia no tear, com algodão que eles plantava,chinelo era de couro de boi e madeira, as panelas, pratos pote e outros objetos usados na cozinha era de cerâmica e madeira. não tinha posto de saúde, era de curava  as doenças  com as plantas medicinas, com conhecimento do  pajé com os benzimentos. De fora eles so compravam o sal, eles iam ate a cidade mais próxima e levava cereais  e objetos para trocar no sal, fazia o transporte dos materiais em jegue usando cangaria e a bruaca , que levava dois dias de viagem. O  café era feito de fedegoso,usava rapadura feita de  na aldeia, usava também o chá de plantas medicinais,fazia sabão caseiro de pequi e pinhão e tingui  e decuada usava para lavar roupa e tomar banho, não tinha transporte usavam cavalo e jegue para ir até a cidade mais próximo,que na época era Januária.Quando acontecia alguns desentendimento de índio contra índio, não era tomado nem uma decisão pelo a justiça era resolvido entre eles mesmo.

Relação do curso com a prática pedagógica

 Relação do curso com a prática pedagógica (cultura e conhecimento da comunidade, métodos de ensino e material didático).

            Segundo relatos obtidos nas entrevistas com os professores, alunos, pais e liderança da aldeia, esse curso está contribuindo muito para a prática dos professores da aldeia.  Tem deixado os professores mais a vontade, bem informados e mais seguros (que estão fazendo uma boa aula) Eles adquiriram mais conhecimentos e desenvolveram melhor seus trabalhos junto com as comunidades. Esse desenvolvimento tem melhorado tanto para o trabalho dos professores quanto no desempenho dos alunos. Os professores estão ajudando os alunos a descobrir um mundo em que ainda não havia sido descoberto, dando a oportunidade de obter e aprofundar outros conhecimentos, despertando- se assim os seus interesses e curiosidades sobre os diversos assuntos.
 Antes de 2006- havia ensino médio em apenas duas aldeias: Barreiro e Brejo. Hoje já tem ensino médio em 6 aldeias, sedes.. Desde que criou o ensino médio, já temos jovens que terminaram o terceiro ano e estão trabalhando na própria aldeia.
Antes da criação do ensino médio nessas sedes, muitos jovens só estudavam até a oitava série e parava porque não tinha condições de continuar estudando na cidade, ou até mesmo para escola em outras aldeias que já existia como explica acima. Era muito distante, e não tinha transportes.
Hoje através das capacitações e da inserção de professores indígenas na graduação intercultural pode se afirmar que houve uma grande aprendizagem; já que tudo que é aprendido no curso é trabalhado no ensino médio.
Antes do curso alguns professores tinham dificuldades em trabalhar algumas disciplinas, pois não tinham capacitação adequada para exercer um cargo no ensino médio, e isto foi superado durante o curso. O mesmo contribuiu no avanço dos professores e tem deixado os alunos mais interessados e confiantes em seus aprendizados.
O curso está sendo muito importante, pois a cada dia aprendemos coisas novas. A participação em cada módulo enriquece a prática em sala de aula. Durante os módulos estamos em constante observação: o jeito e comportamento de cada professor não índigena na sala de aula, os conteúdos desenvolvidos e as formas de desenvolver esses conteúdos.
Cada professor indígena está tendo um bom desempenho, pelo menos na busca de novas práticas e novas metodologias de ensino e produção de material didático específico e isso tem melhorado muito a qualidade de ensino nas escolas indígenas.
Através deste estudo os professores estão conseguindo responder as demandas de cada aldeia e da reserva com ensino da primeira série até o terceiro ano.
Muitas coisas estão acontecendo na prática como a elaboração de planejamento coletivos e com temas voltados para a realidade das comunidades e do próprio povo. Com isso, ajuda os alunos conhecer e reconhecer quem eles são, sua história e a história de seu povo, fortalecendo sua identidade cultural, além de ter oportunidade de conhecer outra cultura.
O curso influenciou também os professores a participarem de encontros, reuniões, oficinas e elaboração de projetos junto com as suas comunidades. Sendo capazes de participarem das discussões e proporem soluções para os problemas.
Com esse curso os professores indígenas aprenderam muitas coisas importantes e interessantes. Através deste curso muitos dos professores criaram projetos que é utilizado dentro da comunidade, e isso, antes do curso ninguém nem ouvia falar.
 O curso ajudou a nos pensar a forma de trabalhar com o nosso jeito de viver.
No conhecimento de legislações que garantem nossos direitos de ter uma escola específica, diferenciada e que seja obedecida e respeitada pelos órgãos competentes.
No resgate e valorização da nossa cultura, revitalização da língua, direito, autonomia e luta pela terra.
Através das demandas, pesquisas com os mais velhos buscando formas e práticas do nosso povo.
O curso está nos ajudando a conhecer os nossos direitos e através desses direitos podemos entender o que é um projeto político pedagógico, porque só assim a comunidade terá respeito. O projeto político e o currículo estão sendo reformulado baseado na demanda surgida nas comunidades. Nele temos a capacidade de colocarmos novas práticas e planejamento a partir de temas que nos interessam e são importantes para nós.  A reformulação desse projeto está acontecendo com a participação, ajuda e esclarecimento dos pais, alunos lideranças cacique e toda comunidade escolar, colocando o nosso jeito e ser de viver, de e pensar.
O curso está dando a possibilidade dos professores conhecerem outras culturas e modo de viver de outros povos indígenas, através de encontros com palestras. Onde eles trazem um pouco da sua realidade, cultura, e anseios para o seu futuro como povo indígena. Assim colocar em prática algum conhecimento ou projeto para resolver a situação nossa, de acordo a necessidade, realidade e modo próprio de viver. Além disso, tem possibilitado os professores ser mais informados, ajudando também na reflexão, de como trabalhar a realidade de dentro e fora; pois é, fundamental para nos que queremos nosso futuro garantido, ter conhecimento do mundo atual que está sendo bem diferente do mundo anterior que os nossos pais viveram.
Destacando a importância da valorização e fortalecimento da prática cultural pegando experiências que podem ajudar na melhoria dos alunos e da comunidade em geral.





Alunas: Cilene Araújo Santos Gomes e Maria Aparecida Nunes Barbosa.




Dois braços em uma mão


Dois braços em uma mão
Como chegamos na universidade
Na minha reserva, antes de 1995, só tinha quatro professoras, que atendiam a quatro aldeias das 30 que somos. O analfabetismo era muito grande entre os jovens e adultos, somente 5 % dos Xacriabá conseguiam ler e escrever.
Com a iniciativa das lideranças anteriores e atuais e das pessoas que se interessam pela causa indígena, foi criado o Programa de Implantação de Escolas Indígenas em Minas Gerais, PIEI-MG. Através da Funai conseguimos parceria com a SEE, a UFMG e o IEF. E, em 95, iniciou a primeira turma do curso de magistério, com a duração de quatro anos divididos em oito módulos.
Antes mesmo de terminar o curso do magistério, as lideranças e caciques de todas as comunidades já tinham demandado vagas na UFMG para os indígenas. Logo depois da diplomação da primeira turma, em 2000, foi apresentado novamente demandas ao acesso à Universidade.  Como na nossa aldeia já tinham muitos alunos que chegavam na oitava série e não tinham como continuar estudando, apenas alguns conseguiam estudar no Município vizinho, São João das Missões. Aí que a cobrança foi mais forte, os alunos estavam parados sem ter como continuar a estudar e, como a decisão da universidade estava lenta, os professores do curso de magistério do PIEI deram um curso de capacitação para os professores indígenas começarem o trabalho com o ensino médio em algumas aldeias. Com essas necessidades e demandas, a universidade ofereceu oficinas em algumas áreas para a gente conhecer melhor, aí as lideranças, professores do projeto e a universidade sentaram juntos e discutiram a criação de um projeto de curso diferenciado dentro da universidade para professores indígenas.
Iniciamos em Maio de 2006 o curso de graduação de Formação Intercultural de Educadores Indígenas com uma turma de 142 professores de oito etnias. Hoje, já estamos na metade do curso que tem duração de cinco anos. Com toda essa iniciativa de trabalhar com os alunos no ensino médio, antes mesmo de começar o curso superior, rendeu muitos frutos. Hoje, os alunos que fizeram o ensino médio dentro da aldeia já estão exercendo cargo de professores e até mesmo secretário de saúde.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Preservação e recuperação do tabuleiro focado nas plantas medicinais


Preservação e recuperação do tabuleiro focado nas plantas medicinais

Hoje as pessoas passam despercebidas e já não dão valor nas plantas medicinais. Antigamente as pessoas usavam bastante as plantas medicinais do tabuleiro.
A maioria das plantas medicinais são cortadas e não são usadas. E também não pode só usar, temos também que preservar.
Hoje a maioria das plantas são mortas por fogo acidental. Hoje já tem poucas plantas e se não preservarmos as plantas vão acabar por causa do descuido.
Hoje são poucas as pessoas que usam as plantas medicinais do tabuleiro, mas sabemos que elas curam muitas doenças.

Preservação e recuperação do tabuleiro focado nas plantas medicinais


Alguns projetos que estão sendo realizados na nossa terra e o que os alunos acham disso

Preservação e recuperação do tabuleiro focado nas plantas medicinais

Esse trabalho é importante porque também está passando o reconhecimento dos mais velhos para os mais novos, porque tem planta que os mais novos não conhecem, por isso que este trabalho é importante, porque passa o conhecimento dos mais velhos para os mais novos.
Eu gostei muito do que as pessoas falaram porque tem muita planta medicinal que eu não sabia pra que servia, e pelo que as pessoas da reunião falaram hoje, já sei de várias plantas que servem para curar várias doenças, como a Vera que  falou que ela mesma foi curada por uma planta chamada jatobá, que serve, segundo ela, para anemia. E teve outras pessoas que também falaram de outras plantas.

O que eu faria para preservar os recursos naturais


O que eu faria para preservar os recursos naturais

Para diminuir a poluição do ar, eu colocaria filtros antipoluentes nos automóveis.
Para acabar com a poluição das águas, eu não jogaria lixos nos rios, lagos, nascentes e riachos. E também construiria fossa em lugares onde não há esgoto.
Para proteger o solo da zona rural, eu não faria queimada. Não faria desmatamento. Se fosse necessário, eu procuraria uma orientação adequada.
Para preservar as plantas da nossa região, eu plantaria novas arvores para controlar o desmatamento das matas.
Para defender a fauna (os animais) de nosso país, eu ia proibir totalmente o comércio de animais, e também proibir o abate dos animais em extinção.

O que é cultura

O que é cultura

Cultura é dar valor às danças, aos rituais, às pinturas, às histórias do nosso povo, às festas comemorativas do dia do índio, aos artesanatos etc.
Nós, índios, valorizamos nossa cultura, nossas tradições e nossa língua porque somos um povo diferente, lutador, queremos fortalecer os nossos direitos, as nossas danças e os nossos costumes.
Nós, Xakriabá, preservamos a cultura e as tradições dos antepassados. Mantemos as danças religiosas, o toré e o batuque. Preservamos a cantiga e continuamos fazendo artesanatos. Mantemos o jeito de cuidar da terra, de colher, de respeitar as instruções da lua, o jeito de se organizar e assim guardamos a nossa história.

O que é uma escola

O que é uma escola



A escola é o começo de nossa vida. É onde começamos a dar o primeiro passo da nossa carreira, estudamos em busca de melhora.
Queremos aproveitar cada momento de nosso estudo, não podemos deixar nossos estudos de fora. Dependemos muito dele para o bem de todos.
Na escola nós aprendemos a ler e escrever, mas também a ter um relacionamento mais próximo dos colegas. Aprendemos a conviver juntos, brincar e respeitar uns aos outros. É através desses comportamentos que conseguimos realizar alguns sonhos. Por isso não deixamos de seguir a estrada que nos espera, que é a esperança de um dia provar para o mundo que somos cidadãos capazes de realizar qualquer profissão.

A cura da nossa aldeia


A cura da nossa aldeia

Hoje nossa aldeia passa bem, diminuíram muito os casos de doenças. Mas nem todos os casos, porque tem coisas que antigamente as pessoas não tinham, como essas doenças do dia a dia.
Melhorou foi nas orientações de doenças contagiosas e também como tratar a água, porque se deixasse a água suja dava dor de barriga, não deixar o quintal sujo para não criar bichos como ratos, baratas, mosquitos, etc.
Antigamente tinha doenças do dia a dia, que eram cuidadas com remédios caseiros. E hoje já não fazem mais isso. As pessoas procuram o médico.





A vida antes era mais fácil

Antes nós viviamos uma vida bem mais fácil e melhor porque chovia mais e a nossa terra era mais rica em matéria orgânica e não havia muita erosão. As coisas eram bem mais fáceis e a gente vivia uma vida bem mais tranqüila e não tinha prejuízo pelas roças que a gente plantava.
Nós plantávamos o milho, feijão, arroz, algodão, mamona, cana de açúcar, etc. e tudo dava com a maior facilidade.
A gente só ia nas cidades vender algumas coisas para comprar outros produtos como café, sal, querosene, etc. o restante todo a gente plantava aqui mesmo na roçada.
Então antes era bem melhor. A gente dependia pouco do comercio e das fabricas. Hoje tudo ficou mais difícil: nossas terras ficaram mais pobres, estão ocorrendo muitas erosões, chove pouco, e nós trabalhamos muito para colher pouco.
A dificuldade é demais, cada dia que passa as coisas mais difíceis ficam. Quase não colhemos nada porque as plantações morrem com o sol e o restante que fica os insetos destroem.


A ROLINHA E A RAPOSA

A ROLINHA
E A RAPOSA

Marlene e Cida Nunes



   Era uma vez uma Rolinha que vivia tão feliz chocando seus ovinhos no galho de uma àrvore.


Um lindo dia, com o brilhar do sol os filhotinhos nasceram.



No dia seguinte para surpresa da rolinha apareceu uma raposa com má intenção e disse: rolinha estou com fome, joga um filhotinho para mim si não eu vou subir ai e comer você com filhote e tudo. E a rolinha jogou.


 No segundo dia a raposa voltou novamente e fez o mesmo.



No terceiro dia apareceu um caburé na árvore onde estava a Rolinha muito triste e perguntou a amiga Rolinha porque ela estava triste e ela lamentou o acontecido.

Então o caburé explicou para a Rolinha que Raposa não subia em árvore e voou e foi tomar banho no rio.


Após alguns minutos apareceu a Raposa novamente e pediu  o ultimo filhote e a rolinha recuou falando que não ia jogar, pois a raposa não subia em árvore.
Ai a raposa perguntou quem tinha falado para ela. Ela respondeu: o amigo caburé.
  

   Depois a raposa muito brava foi procurar o caburé na floresta e encontrou ele tomando banho em um rio.

   Ela falou: amigo caburé, sai da água que eu vou te comer. E ele respondeu: Ê boba caburé molhado é veneno.

  Ela respondeu, eu espero você enxugar e ficou sentada esperando.

  Quando ele enxugou voou depressa e falou: - Ê bicha boba. É mentira que caburé molhado é veneno!

ENTREVISTA COM O SENHOR PEDRO COSTA BARBOSA

ENTREVISTA COM O SENHOR PEDRO COSTA BARBOSA
Idade: 73 anos.
Município: Manga. Fazenda Altamarindo.

  • COMO ERAM AS CONDIÇÕES DE VIDA DAS PESSOAS ANTES DOS ANOS SETENTA?
É, nesse tempo, a gente andava de carro de boi e carregava as coisas na carga. Aqui tudo era difícil, não era bom do povo viver não, nem estrada não tinha, só tinha carreiro. Não tinha arroz, pisava era milho para fazer o canjicão, e tirar o fubá, o trem era pesado.

  • COMPRAVA? TINHA SALÁRIO, COMO QUE ERA?
Não, não tinha salário não. O salário tinha assim 50 centavos. No tempo, eu dizia assim: “Deus, me ajuda que eu ganho o menos uns 50”. Deus me ajudou que eu ganhei dois mirreizin na roça, trabalhando para os outros para ganhar o pão, era difícil, não era fácil não.

  • PRA COMPRAR AS COISAS TINHA VENDA POR AQUI?
Não, não tinha venda não. Pra comprar só na Iúna ou Itacarambi ou Manga. Ia à cavalo e tocando o jegue pra trazer as coisas. Levava algodão, mamoma e porco gordo, vendia para trazer as coisas, era tudo difícil. Não tinha estrada, na época era só uns carreiros, o povo não saía pra fora como hoje, não tinha instrução, o pessoal só trabalhava aqui na roça, só dentro de casa, aqui mesmo na cidade, aqui mesmo para comprar alguma coisa não tinha instrução como hoje para ir pra firma, São Paulo, não tinha não.
O povo ia daqui em Januária de pé, ai, ai! Eu mesmo, quantas vezes eu não fui de pé, tocano carquinha de arroz,  dormia na estrada. Hoje nem pra comer não está dano.

  • COMO ERA, TINHA DOCUMENTO DE PRIMEIRO?
Eu mesmo não me lembro de documento não. Eu, quando fui tirar já estava grandão, nem sabia, porque não tinha cartório, só na Inhuma, num Arnaldo Velho. Aí, com uns tempo, esses meninos meu, foi que compadre Conde deu uma andada por lá e foi tendo conhecimento com o velho Arnaldo e deu pra levar cartão com o nome das crianças, casamentos, aí foi que foi parecendo, antes era tudo parado.
Hoje eu agradeço o meu pai e minha mãe que me criou. Nem na escola eu não fui porque não achei oportunidade, fiquei só dentro de casa trabalhando. Os meus irmãos entrou na escola e eu fiquei, sem estudo não aprendi nada, o estudo que meu pai me deu foi, meu pai dizia: “olha, menino, quando você for num lugar, você anda direito, não fica mais a meninada não”. Eu ia e ficava no meio dos velhos, formava um balaio de gato, “não este aqui não, vai pra lá”, eu dizia olha se eu estivesse lá!

  • OS PROFESSORES GANHAVAM ALGUMA COISA?
Os professores que eu estou falando nessa época era os pais dos alunos que pagava, agora não sei quanto.

  • ANTIGAMENTE TINHA BRIGA, ROUBO, COMO HOJE?
Não, de premeiro era sossegado, tinha muita união. De premeiro, de noite encontrava uma pessoa, já conhecia a voz, aí conversava, era aquela maior amizade do mundo. Hoje, quando encontra já esta com medo.

  • AS ROÇAS ERAM COMO HOJE?
Não, de plantação não batia negócio de veneno não, tratava a roça a poder do braço, botava e limpava, veneno foi de pouco tempo.
[Quando ia colocar uma roça, a outra ainda estava sem colher, a fartura era muita. Nas festas tinha as festas, as sala rica, quando brigava, brigava ] (FALA DE OUTRA PESSOA)
Era de murro, não era de faca não. As coisas hoje diferençou demais, pra trazão não era assim não, uma doença miorava com um chazinho, já hoje não miora não. Diferençou demais.
O movimento de vida de primeiro era bom demais, os casamentos de primeiro era no padre ou no civil, casava era no padre, ia pra missa, chegava lá casava. De premeiro as pessoas casava só pela a amizade dos velhos. A festa de Cezário cortou o dia até no outro dia até 10 horas. Hoje namora 3 anos, quando casa ainda não dá certo.
Eu não reclamo de minha vida, molhando de noite, carriando no escuro que nem um breu. Já carriei com uma vara de boi, que ia naquele mundo, Deus e eu. 

  • O SENHOR CARRIAVA ERA COISA DE ROÇA?
Era carriando coisa de roça que eu ia levando lá pro velho Ogenio Lepe, para vender. Era sofrido. Era milho, algodão e momona.

  • O QUE PLANTAVA?
Na época, eu plantava milho, feijão, algodão, feijoa, tudo plantava e tudo saía, o clima da terra era mais sadio. Lumiava com caburãozinho de barro com óleo de momona, depois de um tempo eu lembro que apareceu querosene e as candeia, os povo lumiava de caroço de momona enfiava um no outro num talo e lumiava como uma vela. Tinha também a candeia de cera. Quando as mulheres ganhavam neném passava no umbigo era o azeite, o povo era sadio, já hoje mudou, é uma mordomia que não pode pisar no chão. Meu irmão chega aqui e tira o sapato para pisar na terra para pegar energia para melhorar os nervos. 

  • ÁGUA DE PRIMEIRO ERA SÓ NO RIO?
Era no rio, grota, cacimba de rio, só tinha esse aqui, eu já panhei muita água em cacimba. Para por roça, fazia os mutirão, eu mesmo sai daqui pra ajudar José de Cristina, trabalhava que nem umas máquinas, era saúde, tinha muita energia.

ENTREVISTA COM SEU NININHO

ENTREVISTA COM SEU NININHO
Nome: Flaviano Romão Damasceno
Idade: 84 anos
Localidade: Fazenda Itacarambizinho Barreiro vermelho
Município: Congomarinho.

  • ONDE O SENHOR NASCEU?
Nasci no Burrachudo, municipio de Congomarinho.

  • OS PAIS DO SENHOR TAMBÉM ERAM DE LÁ?
Era. 

  • EU QUERIA QUE O SENHOR CONTASSE COMO ERA ANTIGAMENTE, A SOBREVIVÊNCIA, OS PLANTIOS.
Antigamente nós tocava roça, serviços de engenho; moía a seca toda, tem vez que começava no mês de abril e só terminava no mês de outubro, ia pra Januária dispor das rapaduras, quando não dispunha de tudo, a gente guardava, punha no paiol, e quando era no verão ia despor no mês de dezembro, aí era quatro dia de viagem, oito boi num carro para a viagem pra vender as rapaduras, cortava dia e noite. Nesse tempo era dois mirreis até três cada rapadura, uma carrada de rapadura era quinhentos a quatrocentos e cinquenta rapaduras, depende do carro, conforme os bois e o carro. O transporte que tinha era carro de boi e cavalo e burro, carga de jegue, não tinha esses transporte de hoje não.

  • NESSE TEMPO ONDE O SENHOR MORAVA NÃO TINHA VENDA?
Não, não tinha não. As vendas era em Januária, depois veio para o Bonito, era quatro léguas no Bonito, a gente saía para comprar um prato de sal, um prato de café, aí vinha embora, acontecia que chegava uma pessoa e tomava um pouco emprestado para quando ele comprasse, ele pagava. De premeiro tinha um empreste de medidas de tudo.
Só comprava café e sal, as outras coisas produzia aqui mesmo, o café era em grão. Desde quando a gente conhecia arroz, depois quando cabava, a gente comprava na Januária ou no Bonito, onde tivesse com casca.

  • O SENHOR LEVAVA SÓ RAPADURA PARA VENDER?
Não, levava para vender arroz e feijão. Eu mesmo levei uma carrada, vendi arroz a 11 mirreis a quarta. Pilava o arroz no pilão, porque se levasse com casca não vendia, na Januária já tinha um lugar onde já beneficiava, ai deste tempo que deu para levar com casca, quando a gente fazia uma festa, que casava uma filha, o arroz era tudo pisado no pilão para fazer aquela festa.

  • E A ROÇA FAZIA COMO HOJE?
A roça a gente queimava, aí cercava de madeira. Às vezes tinha arame, mas não podia comprar, e tinha muitas madeiras, cercava de madeira ou fazia cerca de varão.

  • O QUE PLANTAVA?
Plantava feijão e milho. Nos brejos plantava arroz. Quando era na seca, limpava o brejo e plantava feijão, às vezes era alto, mas tinha rego de água, plantava feijão e molhava regado, de oito em oito dia molhava o feijão. Era plantado o arroz no brejo premeiro e depois tirava e plantava milho e feijão. Na roça no alto plantava também milho e feijão, e no meio do milho, plantava mandioca. No alto plantava mamona para vender, o gás era difícil, aí fazia o azeite pra lumiar e fazia o pavio. Tinha uma xirquinha assim, que ponhava o azeite e lumiava.

  • O AZEITE SERVIA PARA MUITAS COISAS?
É. De premeiro, se a gente sentia a barriga inchada, tomava um purgante de azeite. Era um quarto ou três colher de metal, dependia da natureza da pessoa, e servia para limpar o intestino.

  • NESSE TEMPO TINHA MÉDICO?
Nesse tempo era difícil de médico, tinha, mas era muito difícil, as pessoas morria mais porque não tinha condução.

  • QUAIS ERAM AS DOENÇAS QUE MAIS ATACAVAM AS PESSOAS?
As doenças que mais dava nas pessoas sempre era o dordoi, sarampo, tosse brava e as mulheres morria muito de parto e bicho ruim  (ontem mesmo eu estava falando, hoje tem todo conforto, tantas mulheres que morriam do parto de premeiro - fala da mulher de sr Ninim -). Eu mesmo, minha primeira mulher morreu do parto e eu mesmo já foi o veneno de cobra daquela jararaquinha, quase que eu morro. Eu limpando uma capoeira no mês de outubro, uma lacraia dessas ribitada me pegou, eu passei oito dias com uma dor na perna e aqui no coração, mas não teve nada não. Ai passou um negócio. Dois anos a cobra me pegou aqui ó! Essa perna inchou de um jeito, eu estava mais pai fazendo uma cerca que foi ficando velha, fomos mexendo as folhas secas e casca e aí tinha uma cobrinha. A cobra me pegou e pai não viu, eu matei a cobra e tinha um pé de umbu danta, chuchei a cabeça dela e coloquei de cabeça para baixo, chequei e disse:
- Ô pai, parece quando uma cobra ofende uma coisa a gente coloca ela de cabeça para baixo?
Ele levou um espanto porque ele não viu. Daí foi que eu disse, nós estava fora de casa, aí ele me chamou logo para ir embora. Eu era o cozinheiro, que nós estava num lugar na terra que morava um cunhado meu, daí mudou, ai nós foi fazer a cerca lá que tinha ido abaixo e ainda estava a casa lá, eu só trabalhava lá de junto e cozinhando. Aí pai disse: “ó você hoje não come não, porque quem é ofendido de cobra não come no dia não, passei o dia todo sem comer nada, tinha matado um porco. O cunhado meu tinha levado um porco, e ele disse: “você não come não”, aí viemos embora logo. A perna inchou e eu marrei um cordãozinho aqui e disse, “ó pai, agora daqui não vou deixar passar não”.

  • O SENHOR SABE QUAIS TIPOS DE REMÉDIOS QUE USAVA, DA FARMÁCIA E DO MATO?
O remédio do mato assim, para criação, sempre usava unhadanta, rapava e ponhava no sol e pisava no sal e misturava alho e dava a criação, agora para a gente sempre era o purgante de azeite.

  • E COMPRAVA ALGUNS?
Sempre comprava, porque não sabia fazer; remédio da farmácia era muito difícil, na farmácia tinha, mas era muito longe e não tinha condições.

  • E SOBRE SALÁRIO, TINHA PESSOAS QUE GANHAVA DINHEIRO?
Pessoa que tinha salário era quando trabalhava para os outros. Quando era uma pessoa bem trabalhadora assim no meu tempo, a pessoa trabalhava e ganhava 5oo réis em um dia, quando era uma pessoa bem boa de serviço ganhava um mirréis por dia. Ai que foi rompendo, devagarzinho foi passando para dois mirreis, foi indo foi passando, ficou de 5, e foi indo hoje está até de 20 a 25 reais no dia. O serviço de enxadão, foice, machado, que era deste preço.
De primeiro tinha gente que às vezes tinha um terreno e o arame era difícil, fazia um valo, um esgotão que bicho não passava, ficava feito a cerca ou então, conforme fosse, passava até um varão ou dois ali no barranco né!

  • COMO ERAM OS TIPOS DE ROUPAS?
Os tipos de roupas de premeiro era comprado, às vezes tinha também roupa de linha porque a gente plantava o algodão. Minha mãe mesmo fiava, ela só não sabia era tecer, aí já tinha aquelas pessoas, tinha as mulheres velhas que tecia aquele pano para fazer as roupas, eu mesmo vesti muitas roupas destas, tratava de algodãozão.

  • COMO ERAM AS COMIDAS, ERA DIFERENTE DE HOJE?
A gente comia até bem, matava um gado e a gente comia ele todinho e, às vezes, retalhava a carne, secava e guardava na dispensa, comia muito tempo. Às vezes vendia uma banda, emprestava um quarto pra outro, para quando ele matar pagar, e era assim. Comia mandioca, mamão, banana, taioba, canjica, angu a gente comia muito, a comida mais certa era o arroz e feijão.

  • E A TERRA ANTIGAMENTE, ERA COMPRADA?
Era comprada desde antigamente, só não era comprado quem às vezes tinha uma pessoa, como um avô que tinha aquele terreno, quando ele morria, era dos herdeiros.

  • E AS BRIGAS, ERAM DIFERENTES DE HOJE?
As brigas era muito deferente das de hoje, era muito difícil, era difícil morrer uma pessoa matado, era coisa muito difícil, era uma raridade. Quando parecia uma briga, era só de braço mesmo. Naquela época, de gente que eu já vi morrer matado foi só dois, um homem que era casado com uma tia minha. Ele estava pegando pareia nuns cavalos que era bom para brincar, o do outro passou e matou ele. O outro era brigador, gostava de bater na gente e bebia muita cachaça, foi o Domingo e o Afonso.

  • E AS FESTAS ERAM DIFERENTES?
As festas eram diferentes, que de premeiro quase todo santo a gente tinha aquela devoção de rezar, né! Como Santo Antônio, Santo Reis, São Bom Jesus, era uma harmonia bonita, tinha os casamentos, era tudo unido, tinha gente que acontecia de matar até dois gado, era uma festa boa! Os toques eram de sanfona e pandeiro.

  • NAS FESTAS LUMIAVA TAMBÉM ERA COM O AZEITE?
Era com o azeite, se tinha o gás, quando a cabava, a gente usava o azeite.

  • OS DOCUMENTOS DE ANTIGAMENTE, COMO ERAM?
De primeiro, tinha gente que era assim: nascia os filhos e era alguns que registrava, outros quando ia registrar já estava de 4 anos arriba ou mais, outros nem isso, não acontecia. Quando ia registrar, já era quando ia casar, ficava muito mais disso.

  • O CASAMENTO ERA NO CARTÓRIO?
Era no padre, tinha uns que podia e casava no padre e no cartório e outros às vezes não tinha nada, casava só no padre. Não tinha isso de amigar, era muito difícil, quando acontecia era um espanto para o povo, era um erro.

  • E TINHA ESCOLA?
Escola era difícil, muita gente ficou sem aprender porque não tinha escola e era muito difícil!
O povo fazia muitas promessa, e igreja ia em outro país, caminhava de joelho para pagar a promessa. Eu mesmo, uma ocasião, tinha um burro que era muito bom, que no terreno nosso ele caiu e cortou a perna e ficou cachigando muito tempo, aí eu fiz uma promessa com o senhor Santo Antônio da Serra, que se o burro melhorasse e não ficasse com defeito, eu ia na serra no padre Negro, a hora que eu fosse chegando eu não dava conversa nenhuma e dava três voltas ao redor da igreja aí que desapiava, e o burro ficou bom.