Sou Maria Aparecida Nunes Barbosa da etnia Xacriabá. Moro na aldeia Barra do Sumaré II, município São João das Missões, Minas Gerais. Sou professora há 15 anos na minha aldeia. Sou estudante universitária da UFMG.

Há 3 anos que faço pesquisa sobre conflitos e sobrevivência do povo Xacriabá e municípios vizinhos, antes dos anos 1970.

Pensei em criar esse blog para divulgar meu trabalho e de outros colegas e dar oportunidade para outras pessoas conhecerem um pouco sobre as histórias do nosso povo, que a maior parte está só na mente dos mais velhos que eles estão levando com eles.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O gato trapaceiro


Há muitos anos atrás, quando os bichos podiam falar, em uma casinha muito simples morava um casal que tinha acabado de se casar.
Perto da casa do casal, em uma árvore grande, estavam reunidos vários gatos combinando o que cada um iria fazer.
Um deles metido a esperto disse:
- Vou atazanar aquele casal que acabou de se casar e estão muito felizes.
Todos aconselharam que ele não fizesse isso, mas  ele muito teimoso insistiu em continuar com sua idéia malvada.

Naquele mesmo dia o gato pôs seu plano em andamento.  O marido que vinha do trabalho ao chegar debaixo da árvore que estavam os gatos avistou um gatinho muito bonitinho que veio logo aos seus pés abanando o rabinho. Você já deve imaginar quem seria o gatinho.
Isso mesmo, você acertou. Era o gato que queria acabar com o casamento do casal. 
O marido Que não imaginava o plano do gato o levou para sua casa, deu comida, água e arrumou uma casinha para ele dormir.
No outro dia saiu para trabalhar e recomendou a mulher:
- Mulher, cuide do gato, dê comida e água para ele.

A mulher foi dar comida para ele, mas o gato não queria comer.
Quando o marido chegou, o gato correu para as suas pernas e ficou miando, miando.
O marido perguntou:
- Mulher, você não deu comida para o gato?
- Dei marido, mas não quis comer.
O marido deu comida para o gato. Ele comeu tudo, não deixou nem uma migalha.
     No outro dia o marido saiu mais uma vez para trabalhar e recomendou novamente:
- Mulher, dê comida ao gato. Quando chegar, eu não quero ver ele com fome.
- Sim marido, darei comida a ele.
Mais uma vez a mulher foi dar comida ao gato e Le se negou a comer.
A mulher ficou preocupada de o seu marido chegar e brigar com ela. Insistiu, mas o gato não quis nem triscar na comida.
Quando o marido chegou, o gato correu novamente para as pernas dele:
- Miau, miau, miau!
- Mulher, você não deu comida a esse gato de novo.
- Marido, ele não quis comer nada.
O marido não acreditou e foi aquela maior briga entre os dois.

O tempo foi passando e o casal brigava cada vez mais.
Certo dia o marido saiu para trabalhar e, ao retornar do trabalho, chegou perto de uma mangueira. Subiu no pé de manga para apanhar uma manga para chupar. Quando foi descendo, percebeu que tinha quatro gatos debaixo da mangueira. Olhou curioso e resolveu esperar para ver o que estava acontecendo.
Naquele meio chegou um gato muito parecido com o que ele havia levado para casa.
A surpresa ainda estava por vir.

Os gatos começaram a conversar.
O homem ficou admirado com o que estava vendo.
Mais surpreso ficou quando o gato que achava parecido com o dele começou a falar:
- Estou bem perto de separar o casal, todo dia eles brigam por minha causa. A mulher vai me dar comida e eu não aceito. Só como quando o marido dela chega. Só dou mais uma semana para eles se separarem! Ah, ah, ah!

O homem esperou todos os gatos irem embora e pensou em dar uma lição naquele gato.
Chegando em casa ele disse:
- Mulher, você deu comida ao gato?
- Dei marido, mas ele não quis comer de novo.
O gato novamente correu para as pernas do marido miando...
- Mulher, eu mesmo vou preparar a comida para esse gato. Nunca mais ele vai esquecer!
Preparou um bom chicote! Chamou o gato, segurou pelas pernas...
- Miauuuuuuuu! Miauuuuuuuu! Miauuuuuuu!...
- Gato trapaceiro, nunca mais você vai fazer ninguém brigar.

E você sabe qual foi o fim do gato...

Está até hoje se recuperando da surra que levou!!!

Acordando o passado


 Acordando o passado
Cida Nunes

 Minhas experiências dentro da sala de aula.

Há 10 anos que trabalho em barraco e embaixo de árvores, já alfabetizei muitas crianças usando este tipo de ambiente. Sempre  percebi que as crianças se sentiam muito  felizes, à vontade, quando estavam em ar livre. Este local foi muito importante no  aprendizado das crianças xacriabá. Elas aprendem muito mais olhando os galhos balando pelo o vento, os pássaros cantando, o vizinho assoviando. Dessa maneira, eles não percebiam que estavam fora do seu quintal, vendo estas coisas a todo instante.

Como estão acostumados em ambiente livre, se mudarem para uma sala  entre quatro parede este aprendizado muda, a alegria acaba e eles se sentem incomodados, sentem-se tristes, e todo momento querem sair da sala, eles sentem como se estivessem cegos, sem nem uma visão.

Hoje, alguns desses alunos que alfabetizei embaixo da árvore já são professores, usam o mesmo ambiente, sentem essa diferença e desconforto dentro de uma sala fechada que é muito diferente do  local que a criança está acostumada.

Corrente de memoria

Corrente de memória
   
Os xacriabás que viveram antigamente era muito diferente de hoje, eles não precisavam de dinheiro  para sobreviverem, sobreviviam do  plantio, animais e caças e suas proprias confecções. Dentro da reserva não tinha mercado e nem um tipo de comercio. As roupas e cobertor eram eles mesmo que tecia no tear, com algodão que eles plantava,chinelo era de couro de boi e madeira, as panelas, pratos pote e outros objetos usados na cozinha era de cerâmica e madeira. não tinha posto de saúde, era de curava  as doenças  com as plantas medicinas, com conhecimento do  pajé com os benzimentos. De fora eles so compravam o sal, eles iam ate a cidade mais próxima e levava cereais  e objetos para trocar no sal, fazia o transporte dos materiais em jegue usando cangaria e a bruaca , que levava dois dias de viagem. O  café era feito de fedegoso,usava rapadura feita de  na aldeia, usava também o chá de plantas medicinais,fazia sabão caseiro de pequi e pinhão e tingui  e decuada usava para lavar roupa e tomar banho, não tinha transporte usavam cavalo e jegue para ir até a cidade mais próximo,que na época era Januária.Quando acontecia alguns desentendimento de índio contra índio, não era tomado nem uma decisão pelo a justiça era resolvido entre eles mesmo.

Relação do curso com a prática pedagógica

 Relação do curso com a prática pedagógica (cultura e conhecimento da comunidade, métodos de ensino e material didático).

            Segundo relatos obtidos nas entrevistas com os professores, alunos, pais e liderança da aldeia, esse curso está contribuindo muito para a prática dos professores da aldeia.  Tem deixado os professores mais a vontade, bem informados e mais seguros (que estão fazendo uma boa aula) Eles adquiriram mais conhecimentos e desenvolveram melhor seus trabalhos junto com as comunidades. Esse desenvolvimento tem melhorado tanto para o trabalho dos professores quanto no desempenho dos alunos. Os professores estão ajudando os alunos a descobrir um mundo em que ainda não havia sido descoberto, dando a oportunidade de obter e aprofundar outros conhecimentos, despertando- se assim os seus interesses e curiosidades sobre os diversos assuntos.
 Antes de 2006- havia ensino médio em apenas duas aldeias: Barreiro e Brejo. Hoje já tem ensino médio em 6 aldeias, sedes.. Desde que criou o ensino médio, já temos jovens que terminaram o terceiro ano e estão trabalhando na própria aldeia.
Antes da criação do ensino médio nessas sedes, muitos jovens só estudavam até a oitava série e parava porque não tinha condições de continuar estudando na cidade, ou até mesmo para escola em outras aldeias que já existia como explica acima. Era muito distante, e não tinha transportes.
Hoje através das capacitações e da inserção de professores indígenas na graduação intercultural pode se afirmar que houve uma grande aprendizagem; já que tudo que é aprendido no curso é trabalhado no ensino médio.
Antes do curso alguns professores tinham dificuldades em trabalhar algumas disciplinas, pois não tinham capacitação adequada para exercer um cargo no ensino médio, e isto foi superado durante o curso. O mesmo contribuiu no avanço dos professores e tem deixado os alunos mais interessados e confiantes em seus aprendizados.
O curso está sendo muito importante, pois a cada dia aprendemos coisas novas. A participação em cada módulo enriquece a prática em sala de aula. Durante os módulos estamos em constante observação: o jeito e comportamento de cada professor não índigena na sala de aula, os conteúdos desenvolvidos e as formas de desenvolver esses conteúdos.
Cada professor indígena está tendo um bom desempenho, pelo menos na busca de novas práticas e novas metodologias de ensino e produção de material didático específico e isso tem melhorado muito a qualidade de ensino nas escolas indígenas.
Através deste estudo os professores estão conseguindo responder as demandas de cada aldeia e da reserva com ensino da primeira série até o terceiro ano.
Muitas coisas estão acontecendo na prática como a elaboração de planejamento coletivos e com temas voltados para a realidade das comunidades e do próprio povo. Com isso, ajuda os alunos conhecer e reconhecer quem eles são, sua história e a história de seu povo, fortalecendo sua identidade cultural, além de ter oportunidade de conhecer outra cultura.
O curso influenciou também os professores a participarem de encontros, reuniões, oficinas e elaboração de projetos junto com as suas comunidades. Sendo capazes de participarem das discussões e proporem soluções para os problemas.
Com esse curso os professores indígenas aprenderam muitas coisas importantes e interessantes. Através deste curso muitos dos professores criaram projetos que é utilizado dentro da comunidade, e isso, antes do curso ninguém nem ouvia falar.
 O curso ajudou a nos pensar a forma de trabalhar com o nosso jeito de viver.
No conhecimento de legislações que garantem nossos direitos de ter uma escola específica, diferenciada e que seja obedecida e respeitada pelos órgãos competentes.
No resgate e valorização da nossa cultura, revitalização da língua, direito, autonomia e luta pela terra.
Através das demandas, pesquisas com os mais velhos buscando formas e práticas do nosso povo.
O curso está nos ajudando a conhecer os nossos direitos e através desses direitos podemos entender o que é um projeto político pedagógico, porque só assim a comunidade terá respeito. O projeto político e o currículo estão sendo reformulado baseado na demanda surgida nas comunidades. Nele temos a capacidade de colocarmos novas práticas e planejamento a partir de temas que nos interessam e são importantes para nós.  A reformulação desse projeto está acontecendo com a participação, ajuda e esclarecimento dos pais, alunos lideranças cacique e toda comunidade escolar, colocando o nosso jeito e ser de viver, de e pensar.
O curso está dando a possibilidade dos professores conhecerem outras culturas e modo de viver de outros povos indígenas, através de encontros com palestras. Onde eles trazem um pouco da sua realidade, cultura, e anseios para o seu futuro como povo indígena. Assim colocar em prática algum conhecimento ou projeto para resolver a situação nossa, de acordo a necessidade, realidade e modo próprio de viver. Além disso, tem possibilitado os professores ser mais informados, ajudando também na reflexão, de como trabalhar a realidade de dentro e fora; pois é, fundamental para nos que queremos nosso futuro garantido, ter conhecimento do mundo atual que está sendo bem diferente do mundo anterior que os nossos pais viveram.
Destacando a importância da valorização e fortalecimento da prática cultural pegando experiências que podem ajudar na melhoria dos alunos e da comunidade em geral.





Alunas: Cilene Araújo Santos Gomes e Maria Aparecida Nunes Barbosa.




Dois braços em uma mão


Dois braços em uma mão
Como chegamos na universidade
Na minha reserva, antes de 1995, só tinha quatro professoras, que atendiam a quatro aldeias das 30 que somos. O analfabetismo era muito grande entre os jovens e adultos, somente 5 % dos Xacriabá conseguiam ler e escrever.
Com a iniciativa das lideranças anteriores e atuais e das pessoas que se interessam pela causa indígena, foi criado o Programa de Implantação de Escolas Indígenas em Minas Gerais, PIEI-MG. Através da Funai conseguimos parceria com a SEE, a UFMG e o IEF. E, em 95, iniciou a primeira turma do curso de magistério, com a duração de quatro anos divididos em oito módulos.
Antes mesmo de terminar o curso do magistério, as lideranças e caciques de todas as comunidades já tinham demandado vagas na UFMG para os indígenas. Logo depois da diplomação da primeira turma, em 2000, foi apresentado novamente demandas ao acesso à Universidade.  Como na nossa aldeia já tinham muitos alunos que chegavam na oitava série e não tinham como continuar estudando, apenas alguns conseguiam estudar no Município vizinho, São João das Missões. Aí que a cobrança foi mais forte, os alunos estavam parados sem ter como continuar a estudar e, como a decisão da universidade estava lenta, os professores do curso de magistério do PIEI deram um curso de capacitação para os professores indígenas começarem o trabalho com o ensino médio em algumas aldeias. Com essas necessidades e demandas, a universidade ofereceu oficinas em algumas áreas para a gente conhecer melhor, aí as lideranças, professores do projeto e a universidade sentaram juntos e discutiram a criação de um projeto de curso diferenciado dentro da universidade para professores indígenas.
Iniciamos em Maio de 2006 o curso de graduação de Formação Intercultural de Educadores Indígenas com uma turma de 142 professores de oito etnias. Hoje, já estamos na metade do curso que tem duração de cinco anos. Com toda essa iniciativa de trabalhar com os alunos no ensino médio, antes mesmo de começar o curso superior, rendeu muitos frutos. Hoje, os alunos que fizeram o ensino médio dentro da aldeia já estão exercendo cargo de professores e até mesmo secretário de saúde.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Preservação e recuperação do tabuleiro focado nas plantas medicinais


Preservação e recuperação do tabuleiro focado nas plantas medicinais

Hoje as pessoas passam despercebidas e já não dão valor nas plantas medicinais. Antigamente as pessoas usavam bastante as plantas medicinais do tabuleiro.
A maioria das plantas medicinais são cortadas e não são usadas. E também não pode só usar, temos também que preservar.
Hoje a maioria das plantas são mortas por fogo acidental. Hoje já tem poucas plantas e se não preservarmos as plantas vão acabar por causa do descuido.
Hoje são poucas as pessoas que usam as plantas medicinais do tabuleiro, mas sabemos que elas curam muitas doenças.

Preservação e recuperação do tabuleiro focado nas plantas medicinais


Alguns projetos que estão sendo realizados na nossa terra e o que os alunos acham disso

Preservação e recuperação do tabuleiro focado nas plantas medicinais

Esse trabalho é importante porque também está passando o reconhecimento dos mais velhos para os mais novos, porque tem planta que os mais novos não conhecem, por isso que este trabalho é importante, porque passa o conhecimento dos mais velhos para os mais novos.
Eu gostei muito do que as pessoas falaram porque tem muita planta medicinal que eu não sabia pra que servia, e pelo que as pessoas da reunião falaram hoje, já sei de várias plantas que servem para curar várias doenças, como a Vera que  falou que ela mesma foi curada por uma planta chamada jatobá, que serve, segundo ela, para anemia. E teve outras pessoas que também falaram de outras plantas.

O que eu faria para preservar os recursos naturais


O que eu faria para preservar os recursos naturais

Para diminuir a poluição do ar, eu colocaria filtros antipoluentes nos automóveis.
Para acabar com a poluição das águas, eu não jogaria lixos nos rios, lagos, nascentes e riachos. E também construiria fossa em lugares onde não há esgoto.
Para proteger o solo da zona rural, eu não faria queimada. Não faria desmatamento. Se fosse necessário, eu procuraria uma orientação adequada.
Para preservar as plantas da nossa região, eu plantaria novas arvores para controlar o desmatamento das matas.
Para defender a fauna (os animais) de nosso país, eu ia proibir totalmente o comércio de animais, e também proibir o abate dos animais em extinção.

O que é cultura

O que é cultura

Cultura é dar valor às danças, aos rituais, às pinturas, às histórias do nosso povo, às festas comemorativas do dia do índio, aos artesanatos etc.
Nós, índios, valorizamos nossa cultura, nossas tradições e nossa língua porque somos um povo diferente, lutador, queremos fortalecer os nossos direitos, as nossas danças e os nossos costumes.
Nós, Xakriabá, preservamos a cultura e as tradições dos antepassados. Mantemos as danças religiosas, o toré e o batuque. Preservamos a cantiga e continuamos fazendo artesanatos. Mantemos o jeito de cuidar da terra, de colher, de respeitar as instruções da lua, o jeito de se organizar e assim guardamos a nossa história.

O que é uma escola

O que é uma escola



A escola é o começo de nossa vida. É onde começamos a dar o primeiro passo da nossa carreira, estudamos em busca de melhora.
Queremos aproveitar cada momento de nosso estudo, não podemos deixar nossos estudos de fora. Dependemos muito dele para o bem de todos.
Na escola nós aprendemos a ler e escrever, mas também a ter um relacionamento mais próximo dos colegas. Aprendemos a conviver juntos, brincar e respeitar uns aos outros. É através desses comportamentos que conseguimos realizar alguns sonhos. Por isso não deixamos de seguir a estrada que nos espera, que é a esperança de um dia provar para o mundo que somos cidadãos capazes de realizar qualquer profissão.

A cura da nossa aldeia


A cura da nossa aldeia

Hoje nossa aldeia passa bem, diminuíram muito os casos de doenças. Mas nem todos os casos, porque tem coisas que antigamente as pessoas não tinham, como essas doenças do dia a dia.
Melhorou foi nas orientações de doenças contagiosas e também como tratar a água, porque se deixasse a água suja dava dor de barriga, não deixar o quintal sujo para não criar bichos como ratos, baratas, mosquitos, etc.
Antigamente tinha doenças do dia a dia, que eram cuidadas com remédios caseiros. E hoje já não fazem mais isso. As pessoas procuram o médico.





A vida antes era mais fácil

Antes nós viviamos uma vida bem mais fácil e melhor porque chovia mais e a nossa terra era mais rica em matéria orgânica e não havia muita erosão. As coisas eram bem mais fáceis e a gente vivia uma vida bem mais tranqüila e não tinha prejuízo pelas roças que a gente plantava.
Nós plantávamos o milho, feijão, arroz, algodão, mamona, cana de açúcar, etc. e tudo dava com a maior facilidade.
A gente só ia nas cidades vender algumas coisas para comprar outros produtos como café, sal, querosene, etc. o restante todo a gente plantava aqui mesmo na roçada.
Então antes era bem melhor. A gente dependia pouco do comercio e das fabricas. Hoje tudo ficou mais difícil: nossas terras ficaram mais pobres, estão ocorrendo muitas erosões, chove pouco, e nós trabalhamos muito para colher pouco.
A dificuldade é demais, cada dia que passa as coisas mais difíceis ficam. Quase não colhemos nada porque as plantações morrem com o sol e o restante que fica os insetos destroem.


A ROLINHA E A RAPOSA

A ROLINHA
E A RAPOSA

Marlene e Cida Nunes



   Era uma vez uma Rolinha que vivia tão feliz chocando seus ovinhos no galho de uma àrvore.


Um lindo dia, com o brilhar do sol os filhotinhos nasceram.



No dia seguinte para surpresa da rolinha apareceu uma raposa com má intenção e disse: rolinha estou com fome, joga um filhotinho para mim si não eu vou subir ai e comer você com filhote e tudo. E a rolinha jogou.


 No segundo dia a raposa voltou novamente e fez o mesmo.



No terceiro dia apareceu um caburé na árvore onde estava a Rolinha muito triste e perguntou a amiga Rolinha porque ela estava triste e ela lamentou o acontecido.

Então o caburé explicou para a Rolinha que Raposa não subia em árvore e voou e foi tomar banho no rio.


Após alguns minutos apareceu a Raposa novamente e pediu  o ultimo filhote e a rolinha recuou falando que não ia jogar, pois a raposa não subia em árvore.
Ai a raposa perguntou quem tinha falado para ela. Ela respondeu: o amigo caburé.
  

   Depois a raposa muito brava foi procurar o caburé na floresta e encontrou ele tomando banho em um rio.

   Ela falou: amigo caburé, sai da água que eu vou te comer. E ele respondeu: Ê boba caburé molhado é veneno.

  Ela respondeu, eu espero você enxugar e ficou sentada esperando.

  Quando ele enxugou voou depressa e falou: - Ê bicha boba. É mentira que caburé molhado é veneno!

ENTREVISTA COM O SENHOR PEDRO COSTA BARBOSA

ENTREVISTA COM O SENHOR PEDRO COSTA BARBOSA
Idade: 73 anos.
Município: Manga. Fazenda Altamarindo.

  • COMO ERAM AS CONDIÇÕES DE VIDA DAS PESSOAS ANTES DOS ANOS SETENTA?
É, nesse tempo, a gente andava de carro de boi e carregava as coisas na carga. Aqui tudo era difícil, não era bom do povo viver não, nem estrada não tinha, só tinha carreiro. Não tinha arroz, pisava era milho para fazer o canjicão, e tirar o fubá, o trem era pesado.

  • COMPRAVA? TINHA SALÁRIO, COMO QUE ERA?
Não, não tinha salário não. O salário tinha assim 50 centavos. No tempo, eu dizia assim: “Deus, me ajuda que eu ganho o menos uns 50”. Deus me ajudou que eu ganhei dois mirreizin na roça, trabalhando para os outros para ganhar o pão, era difícil, não era fácil não.

  • PRA COMPRAR AS COISAS TINHA VENDA POR AQUI?
Não, não tinha venda não. Pra comprar só na Iúna ou Itacarambi ou Manga. Ia à cavalo e tocando o jegue pra trazer as coisas. Levava algodão, mamoma e porco gordo, vendia para trazer as coisas, era tudo difícil. Não tinha estrada, na época era só uns carreiros, o povo não saía pra fora como hoje, não tinha instrução, o pessoal só trabalhava aqui na roça, só dentro de casa, aqui mesmo na cidade, aqui mesmo para comprar alguma coisa não tinha instrução como hoje para ir pra firma, São Paulo, não tinha não.
O povo ia daqui em Januária de pé, ai, ai! Eu mesmo, quantas vezes eu não fui de pé, tocano carquinha de arroz,  dormia na estrada. Hoje nem pra comer não está dano.

  • COMO ERA, TINHA DOCUMENTO DE PRIMEIRO?
Eu mesmo não me lembro de documento não. Eu, quando fui tirar já estava grandão, nem sabia, porque não tinha cartório, só na Inhuma, num Arnaldo Velho. Aí, com uns tempo, esses meninos meu, foi que compadre Conde deu uma andada por lá e foi tendo conhecimento com o velho Arnaldo e deu pra levar cartão com o nome das crianças, casamentos, aí foi que foi parecendo, antes era tudo parado.
Hoje eu agradeço o meu pai e minha mãe que me criou. Nem na escola eu não fui porque não achei oportunidade, fiquei só dentro de casa trabalhando. Os meus irmãos entrou na escola e eu fiquei, sem estudo não aprendi nada, o estudo que meu pai me deu foi, meu pai dizia: “olha, menino, quando você for num lugar, você anda direito, não fica mais a meninada não”. Eu ia e ficava no meio dos velhos, formava um balaio de gato, “não este aqui não, vai pra lá”, eu dizia olha se eu estivesse lá!

  • OS PROFESSORES GANHAVAM ALGUMA COISA?
Os professores que eu estou falando nessa época era os pais dos alunos que pagava, agora não sei quanto.

  • ANTIGAMENTE TINHA BRIGA, ROUBO, COMO HOJE?
Não, de premeiro era sossegado, tinha muita união. De premeiro, de noite encontrava uma pessoa, já conhecia a voz, aí conversava, era aquela maior amizade do mundo. Hoje, quando encontra já esta com medo.

  • AS ROÇAS ERAM COMO HOJE?
Não, de plantação não batia negócio de veneno não, tratava a roça a poder do braço, botava e limpava, veneno foi de pouco tempo.
[Quando ia colocar uma roça, a outra ainda estava sem colher, a fartura era muita. Nas festas tinha as festas, as sala rica, quando brigava, brigava ] (FALA DE OUTRA PESSOA)
Era de murro, não era de faca não. As coisas hoje diferençou demais, pra trazão não era assim não, uma doença miorava com um chazinho, já hoje não miora não. Diferençou demais.
O movimento de vida de primeiro era bom demais, os casamentos de primeiro era no padre ou no civil, casava era no padre, ia pra missa, chegava lá casava. De premeiro as pessoas casava só pela a amizade dos velhos. A festa de Cezário cortou o dia até no outro dia até 10 horas. Hoje namora 3 anos, quando casa ainda não dá certo.
Eu não reclamo de minha vida, molhando de noite, carriando no escuro que nem um breu. Já carriei com uma vara de boi, que ia naquele mundo, Deus e eu. 

  • O SENHOR CARRIAVA ERA COISA DE ROÇA?
Era carriando coisa de roça que eu ia levando lá pro velho Ogenio Lepe, para vender. Era sofrido. Era milho, algodão e momona.

  • O QUE PLANTAVA?
Na época, eu plantava milho, feijão, algodão, feijoa, tudo plantava e tudo saía, o clima da terra era mais sadio. Lumiava com caburãozinho de barro com óleo de momona, depois de um tempo eu lembro que apareceu querosene e as candeia, os povo lumiava de caroço de momona enfiava um no outro num talo e lumiava como uma vela. Tinha também a candeia de cera. Quando as mulheres ganhavam neném passava no umbigo era o azeite, o povo era sadio, já hoje mudou, é uma mordomia que não pode pisar no chão. Meu irmão chega aqui e tira o sapato para pisar na terra para pegar energia para melhorar os nervos. 

  • ÁGUA DE PRIMEIRO ERA SÓ NO RIO?
Era no rio, grota, cacimba de rio, só tinha esse aqui, eu já panhei muita água em cacimba. Para por roça, fazia os mutirão, eu mesmo sai daqui pra ajudar José de Cristina, trabalhava que nem umas máquinas, era saúde, tinha muita energia.

ENTREVISTA COM SEU NININHO

ENTREVISTA COM SEU NININHO
Nome: Flaviano Romão Damasceno
Idade: 84 anos
Localidade: Fazenda Itacarambizinho Barreiro vermelho
Município: Congomarinho.

  • ONDE O SENHOR NASCEU?
Nasci no Burrachudo, municipio de Congomarinho.

  • OS PAIS DO SENHOR TAMBÉM ERAM DE LÁ?
Era. 

  • EU QUERIA QUE O SENHOR CONTASSE COMO ERA ANTIGAMENTE, A SOBREVIVÊNCIA, OS PLANTIOS.
Antigamente nós tocava roça, serviços de engenho; moía a seca toda, tem vez que começava no mês de abril e só terminava no mês de outubro, ia pra Januária dispor das rapaduras, quando não dispunha de tudo, a gente guardava, punha no paiol, e quando era no verão ia despor no mês de dezembro, aí era quatro dia de viagem, oito boi num carro para a viagem pra vender as rapaduras, cortava dia e noite. Nesse tempo era dois mirreis até três cada rapadura, uma carrada de rapadura era quinhentos a quatrocentos e cinquenta rapaduras, depende do carro, conforme os bois e o carro. O transporte que tinha era carro de boi e cavalo e burro, carga de jegue, não tinha esses transporte de hoje não.

  • NESSE TEMPO ONDE O SENHOR MORAVA NÃO TINHA VENDA?
Não, não tinha não. As vendas era em Januária, depois veio para o Bonito, era quatro léguas no Bonito, a gente saía para comprar um prato de sal, um prato de café, aí vinha embora, acontecia que chegava uma pessoa e tomava um pouco emprestado para quando ele comprasse, ele pagava. De premeiro tinha um empreste de medidas de tudo.
Só comprava café e sal, as outras coisas produzia aqui mesmo, o café era em grão. Desde quando a gente conhecia arroz, depois quando cabava, a gente comprava na Januária ou no Bonito, onde tivesse com casca.

  • O SENHOR LEVAVA SÓ RAPADURA PARA VENDER?
Não, levava para vender arroz e feijão. Eu mesmo levei uma carrada, vendi arroz a 11 mirreis a quarta. Pilava o arroz no pilão, porque se levasse com casca não vendia, na Januária já tinha um lugar onde já beneficiava, ai deste tempo que deu para levar com casca, quando a gente fazia uma festa, que casava uma filha, o arroz era tudo pisado no pilão para fazer aquela festa.

  • E A ROÇA FAZIA COMO HOJE?
A roça a gente queimava, aí cercava de madeira. Às vezes tinha arame, mas não podia comprar, e tinha muitas madeiras, cercava de madeira ou fazia cerca de varão.

  • O QUE PLANTAVA?
Plantava feijão e milho. Nos brejos plantava arroz. Quando era na seca, limpava o brejo e plantava feijão, às vezes era alto, mas tinha rego de água, plantava feijão e molhava regado, de oito em oito dia molhava o feijão. Era plantado o arroz no brejo premeiro e depois tirava e plantava milho e feijão. Na roça no alto plantava também milho e feijão, e no meio do milho, plantava mandioca. No alto plantava mamona para vender, o gás era difícil, aí fazia o azeite pra lumiar e fazia o pavio. Tinha uma xirquinha assim, que ponhava o azeite e lumiava.

  • O AZEITE SERVIA PARA MUITAS COISAS?
É. De premeiro, se a gente sentia a barriga inchada, tomava um purgante de azeite. Era um quarto ou três colher de metal, dependia da natureza da pessoa, e servia para limpar o intestino.

  • NESSE TEMPO TINHA MÉDICO?
Nesse tempo era difícil de médico, tinha, mas era muito difícil, as pessoas morria mais porque não tinha condução.

  • QUAIS ERAM AS DOENÇAS QUE MAIS ATACAVAM AS PESSOAS?
As doenças que mais dava nas pessoas sempre era o dordoi, sarampo, tosse brava e as mulheres morria muito de parto e bicho ruim  (ontem mesmo eu estava falando, hoje tem todo conforto, tantas mulheres que morriam do parto de premeiro - fala da mulher de sr Ninim -). Eu mesmo, minha primeira mulher morreu do parto e eu mesmo já foi o veneno de cobra daquela jararaquinha, quase que eu morro. Eu limpando uma capoeira no mês de outubro, uma lacraia dessas ribitada me pegou, eu passei oito dias com uma dor na perna e aqui no coração, mas não teve nada não. Ai passou um negócio. Dois anos a cobra me pegou aqui ó! Essa perna inchou de um jeito, eu estava mais pai fazendo uma cerca que foi ficando velha, fomos mexendo as folhas secas e casca e aí tinha uma cobrinha. A cobra me pegou e pai não viu, eu matei a cobra e tinha um pé de umbu danta, chuchei a cabeça dela e coloquei de cabeça para baixo, chequei e disse:
- Ô pai, parece quando uma cobra ofende uma coisa a gente coloca ela de cabeça para baixo?
Ele levou um espanto porque ele não viu. Daí foi que eu disse, nós estava fora de casa, aí ele me chamou logo para ir embora. Eu era o cozinheiro, que nós estava num lugar na terra que morava um cunhado meu, daí mudou, ai nós foi fazer a cerca lá que tinha ido abaixo e ainda estava a casa lá, eu só trabalhava lá de junto e cozinhando. Aí pai disse: “ó você hoje não come não, porque quem é ofendido de cobra não come no dia não, passei o dia todo sem comer nada, tinha matado um porco. O cunhado meu tinha levado um porco, e ele disse: “você não come não”, aí viemos embora logo. A perna inchou e eu marrei um cordãozinho aqui e disse, “ó pai, agora daqui não vou deixar passar não”.

  • O SENHOR SABE QUAIS TIPOS DE REMÉDIOS QUE USAVA, DA FARMÁCIA E DO MATO?
O remédio do mato assim, para criação, sempre usava unhadanta, rapava e ponhava no sol e pisava no sal e misturava alho e dava a criação, agora para a gente sempre era o purgante de azeite.

  • E COMPRAVA ALGUNS?
Sempre comprava, porque não sabia fazer; remédio da farmácia era muito difícil, na farmácia tinha, mas era muito longe e não tinha condições.

  • E SOBRE SALÁRIO, TINHA PESSOAS QUE GANHAVA DINHEIRO?
Pessoa que tinha salário era quando trabalhava para os outros. Quando era uma pessoa bem trabalhadora assim no meu tempo, a pessoa trabalhava e ganhava 5oo réis em um dia, quando era uma pessoa bem boa de serviço ganhava um mirréis por dia. Ai que foi rompendo, devagarzinho foi passando para dois mirreis, foi indo foi passando, ficou de 5, e foi indo hoje está até de 20 a 25 reais no dia. O serviço de enxadão, foice, machado, que era deste preço.
De primeiro tinha gente que às vezes tinha um terreno e o arame era difícil, fazia um valo, um esgotão que bicho não passava, ficava feito a cerca ou então, conforme fosse, passava até um varão ou dois ali no barranco né!

  • COMO ERAM OS TIPOS DE ROUPAS?
Os tipos de roupas de premeiro era comprado, às vezes tinha também roupa de linha porque a gente plantava o algodão. Minha mãe mesmo fiava, ela só não sabia era tecer, aí já tinha aquelas pessoas, tinha as mulheres velhas que tecia aquele pano para fazer as roupas, eu mesmo vesti muitas roupas destas, tratava de algodãozão.

  • COMO ERAM AS COMIDAS, ERA DIFERENTE DE HOJE?
A gente comia até bem, matava um gado e a gente comia ele todinho e, às vezes, retalhava a carne, secava e guardava na dispensa, comia muito tempo. Às vezes vendia uma banda, emprestava um quarto pra outro, para quando ele matar pagar, e era assim. Comia mandioca, mamão, banana, taioba, canjica, angu a gente comia muito, a comida mais certa era o arroz e feijão.

  • E A TERRA ANTIGAMENTE, ERA COMPRADA?
Era comprada desde antigamente, só não era comprado quem às vezes tinha uma pessoa, como um avô que tinha aquele terreno, quando ele morria, era dos herdeiros.

  • E AS BRIGAS, ERAM DIFERENTES DE HOJE?
As brigas era muito deferente das de hoje, era muito difícil, era difícil morrer uma pessoa matado, era coisa muito difícil, era uma raridade. Quando parecia uma briga, era só de braço mesmo. Naquela época, de gente que eu já vi morrer matado foi só dois, um homem que era casado com uma tia minha. Ele estava pegando pareia nuns cavalos que era bom para brincar, o do outro passou e matou ele. O outro era brigador, gostava de bater na gente e bebia muita cachaça, foi o Domingo e o Afonso.

  • E AS FESTAS ERAM DIFERENTES?
As festas eram diferentes, que de premeiro quase todo santo a gente tinha aquela devoção de rezar, né! Como Santo Antônio, Santo Reis, São Bom Jesus, era uma harmonia bonita, tinha os casamentos, era tudo unido, tinha gente que acontecia de matar até dois gado, era uma festa boa! Os toques eram de sanfona e pandeiro.

  • NAS FESTAS LUMIAVA TAMBÉM ERA COM O AZEITE?
Era com o azeite, se tinha o gás, quando a cabava, a gente usava o azeite.

  • OS DOCUMENTOS DE ANTIGAMENTE, COMO ERAM?
De primeiro, tinha gente que era assim: nascia os filhos e era alguns que registrava, outros quando ia registrar já estava de 4 anos arriba ou mais, outros nem isso, não acontecia. Quando ia registrar, já era quando ia casar, ficava muito mais disso.

  • O CASAMENTO ERA NO CARTÓRIO?
Era no padre, tinha uns que podia e casava no padre e no cartório e outros às vezes não tinha nada, casava só no padre. Não tinha isso de amigar, era muito difícil, quando acontecia era um espanto para o povo, era um erro.

  • E TINHA ESCOLA?
Escola era difícil, muita gente ficou sem aprender porque não tinha escola e era muito difícil!
O povo fazia muitas promessa, e igreja ia em outro país, caminhava de joelho para pagar a promessa. Eu mesmo, uma ocasião, tinha um burro que era muito bom, que no terreno nosso ele caiu e cortou a perna e ficou cachigando muito tempo, aí eu fiz uma promessa com o senhor Santo Antônio da Serra, que se o burro melhorasse e não ficasse com defeito, eu ia na serra no padre Negro, a hora que eu fosse chegando eu não dava conversa nenhuma e dava três voltas ao redor da igreja aí que desapiava, e o burro ficou bom.

ENTREVISTA COM SEU LIFA

ENTREVISTA COM SEU LIFA
Idade: 86 anos
Aldeia: Sumaré 3

  • O SENHOR SABE COMO COMEÇOU A ORGANIZAR OS DOCUMENTOS PARA DEMARCAR A ÁREA? O SENHOR CONHECEU A PESSOA A QUE FOI O PRIMEIRO A DAR INÍCIO?
É, de premeiro era assim, era de escritura, depois largou ela porque essa área aqui era para deixar para os índios, mas todo mundo tinha as terra, era tudo de escritura, aí depois foi que voltou, mó de esse direto que deu, aí foi que acabou esse negócio de escritura, esse negócio ficô para a FUNAI, eu me lembro bem, não era para pagar mais imposto nem nada, antes pagava né! Pagava! Se não pagava num ano, ano outro tinha que pagar, falou que não era para pagar mais imposto, porque essa área que era o governo que estava dando, mas também foi assim todo mundo pagava e não tinha nada, ai depois inventaram que tinham uma barra de ouro dentro de uma lapa, ai desgramemos a cavacar, estoremos esse morro seis meses, um ano, seis de outro, e nunca que apareceu, mas o trem estava lá dentro, assim teve um que entrou e viu ele lá dentro e saiu cum cacho de banana desse tamanho, panhou e falou com os outros que não ia cavacar mais não, que ia descansar e dar um tempo. Esse que panhou era mais proca.
O governo deu essa área foi nessa era (risada), se fosse nessa era agora!... Nesse tempo eu era menino, assim ó! Meu pai carregava eu era para amarrar cavalo, dar água, mas sempre eu ia lá assuntar, foi cavando, cavando pra lá assim numa curva, desse tamanho assim ó! “Me dá uma rapadura pra Ninim levar, pra mim comer”, aí deu ele a rapadura, ele comeu, bebeu água, ainda deu uma para ele levar. Se fosse uma gente esperta tinha saído, tinha malinado, tinha rastado ele, estava lá, conversando mais o véio, ele chegou cedo e quando ele saiu já foi de tarde. Tinha dado tempo de guardar o ouro. Não dava! Aí chegou lá, ganhou essa taxa. Se fosse como esse de agora, pequeno não, de premeiro vendia era por saco. Tinha bastante, era grande, era pequeno.

  • PARA REGISTRAR O DOCUMENTO DA TERRA, O SENHOR SABE QUEM DEU INÍCIO?
Quem deu inicio, eu não sei não, nesse tempo eu era pequeno, era menino. Só sei que tinha Manelão Paixão e Pedro Geromo que arrumava, o Pedro Geromo só era para arrumar, que ele não tinha leitura, o bom mesmo para viajar era o Manelão, ele morava no Barreiro.

  • AQUI TINHA MUITOS FAZENDEIROS?
Os fazendeiros que tinha aqui era um homem que morava aqui, o finado Iôiô, que morava ali naquele morro perto de Zé de Ermina. Ele comprou essa terra na mão dele e ele foi comprar outra terra lá no Dizimeiro. O homem que vendeu a terra para o finado Iôiô é de fora, é fazendeiro que antes tinha comprado terra aqui. 

  • COMPRAVA REMÉDIO, QUAIS?
Nesse tempo não comprava muito remédio não, só comprava na butique era: rual, cena, aguardente camelão, maná. De premeiro não tinha esse tanto de doença não, quando parecia, já tomava esses remédio e já melhorava, hoje parece tantas doenças que a gente nem sabe o que que é.

  • DE PRIMEIRO OS ÍNDIOS ERAM TODOS APURADOS?
No início era todos apurados, mas depois foi ficando muito misturado, mas foi por aldeia, lá na Prata mesmo tinha uns índios todos branco, mas do cabelo bom. E era assim, umas aldeias era mais misturada e outras mais apurada. Mas tudo era daqui.

  • E QUAIS ERAM OS TIPOS DE ALIMENTOS?
Antigamente era carne de gado, porco, caça do mato, tatu, anta, caititu, e criava tombém carneiro. Os alimentos era assim.

  • QUAIS ERAM OS ALIMENTOS DE ROÇA? O QUE PLANTAVA?
Plantava arroz, feijão e milho. Arroz plantava nos baixão e o milho plantava onde água não passava, mas era uma fartura! Quando ia plantar, que chegava o tempo, ainda tinha na roça, outra hora fazia um surrão para guardar de um ano para outro, o surrão era para guardar milho, feijão, arroz, momona e algodão, e o sote era para guardar farinha, carne, toicim. 

  • COMPRAVA ALGUMA COISA FORA?
Não, fora o café e o sal, assim mesmo comprava era de prato e de quarta. De primeiro era tudo no prato, momona, feijão, os cortador de gado vendia um quarto, pegava no meio e pegava uma vara e marcava no meio e marrava uma corda e botava um pedaço em uma ponta, outro na outra ponta e quando o peso estivesse igual, o quarto estava dividido no meio. Assim era feito com pedaço pequeno e a balança de primeiro era assim. Chamava fieli. Pesava tombem no fieli saco de algodão, momona e paina. Metro e quilo é de pouco tempo. E de quando inventou quilo, as coisas arruinaram, ficou tudo difícil. Momona, algodão e paina era levada na cabeça para Januária para vender, para trazer as coisas que não tinha cá.
De primeiro quando ia casar uma moça, fazia o cochão era de palha de milho, banana e folha de caitinga de porco para pôr na cama da noiva. E trabiceiro era feito de paina. E era considerado coisa granfina.

ENTREVISTA COM SEU EMÍLIO

ENTREVISTA COM SEU EMÍLIO
Nome: Emílio Lopes de Oliveira
Idade: 59 anos
Aldeia: Pedra Redonda
Data: 30/07/2010

  • O SENHOR PODE ME FALAR UM POUCO DE SEUS PAIS?
Meu pai, minha mãe e meu avô foi nascido no Riachinho. Minha avó por parte do meu pai morava no Brejo, mas minha família toda era do Riachinho. Agora, meu pai é filho do meu avô, mas o pai da minha mãe é filho de um Caiapó. Ele é filho de uma mulher solteira. Na época, os índios Caiapó passaram por aqui, aí engravidou uma Leopordina, que é a minha bisavó. Ela era uma mulher solteira, que nasceu meu avô. Aí eles foram embora e largaram ela aí, gorda. Depois nasceu um menino, então ele tem o nome de Felipe Pó. Então ele é Felipe Lopes da Rocha Pó, porque ele é filho dos Caiapó. Então nós temos uma racinha dos Caiapó, lá do Pará. É uma misturinha. 

  • COMO ERAM AS MORADIAS E AS LAVOURAS?
As moradias, nessa época, tudo era de capim, era uma cabana de capim, casinha de beira no chão. Assim quando eu conheci, quando meu pai morreu, deixou nós numa casinha no Riacho Comprido, numa casinha coberta de capim agreste, rapado no tabuleiro, aí minha mãe não quis ficar lá. Ele morreu aqui na nossa casa, que era de casca de pau.

  • TINHA O PAU CERTO PARA TIRAR AS CASCAS?
Tinha. Tinha o pau d’arco, que tinha muito nessa época. E tem ainda. Todos eles tinham casa de capim, aí foi tirando as cascas e vendendo para eles de lá, que não queriam arrancar mais capim, aí ia fazendo de casca também. É dessa maneira o trabalho nosso naquele tempo.

  • E PLANTAVA QUAIS TIPOS DE PLANTAS?
Plantava mais era milho, algodão, mamona e mandioca. A gente ganhava uns centavos era de algodão e mamona. O milhozinho a gente só plantava a conta de comer. Ele todo ia pro pilão para tirar a farinha, a canjica. Ninguém tinha arroz. O arroz nosso era do milho. A situação nossa era assim, dessa maneira. A panela nós não tínhamos. A panela era de barro, que nós fazíamos, não conhecia nem panela, nem nenhuma outra coisa de ferro. Os pratos eram as cuias, quando não fazia de barro mesmo para por a farinha e por até mesmo a comida, ou as gamelinhas de pau que fazia para comer. E naquele tempo, os homens eram separados das mulheres, as mulheres cozinhavam na panela e botavam numa gamela para o pai comer junto com os filhos. E outras para as mães com as filhas. Sentava o pai junto com os filhos e a mãe junto com as filhas. Todos comiam com a mão. A botadeira da comida era a chefe, que era a mulher.

  • CONTE UM POUCO SOBRE O DOCUMENTO SOBRE A TERRA
A história do documento da terra. Nós, quando começamos, já tinha documento. Mas nós, aqui mesmo, não tínhamos o documento. Estava tudo no cartório. Nós não sabíamos nem onde estava nem que tinha uma doação. Quando o finado Jeromo morreu, o finado Pedro Jeromo, que era o filho dele, tomou conta do seu chefe. Ele pegou a doação, aí quando Pedro morreu, o Zé Catiano pegou a doação e dessa doação começou a guerra da terra. Porque ele pegou a doação e espinicou (consumiu) e nós ficamos sem nenhum documento. O documento que nós tínhamos era esse, que passou para a mão do finado Jeromo, que passou para o filho, do filho para o genro, e aí desapareceu o documento. Aí para nós ficou ruim. Foi a luta da terra, mas estava sem documento. Esse Zé Catiano correu atrás, mas não deu conta. Não deu conta porque essa Ruralminas foi ele que trouxe, através da sumida desse documento, querendo fazer venda de terra. Aí sumiu o documento. Aí fomo em riba, fomo embaixo, em busca desse documento. Aí já alcançamos o Rodrigo, que começou a mexer com esta terra. Ele andava sem documento nenhum. Aí a gente fez um trabalho. O primeiro documento que fez aqui foi a dança do Toré. Fez uns retratos e aí registramos. Dançamos o Toré que estava escondido, aí juntamos um grupinho da família e fomos e levantamos um terreiro, e fizemos a dança. Ainda bem que ainda tinha a imagem do Toré. Nós pegamos as coisas de lá, a mênsia, que fazia junto o grupinho que ainda entendia um pouco. Aí fomos, tiramos uns retratos. Esses retrato foi um dos primeiros documentos. O povo não acreditava que tinha índio aqui. Aí quando ele levou, eles acreditaram. Aí falou: “Ó, tem mesmo”. Aí mostrou a Jurema, que quem usa a jurema são só os índios. Essa cultura.
Aí ficamos sem documento e fomos lutando. Caminhando, caminhando, sem saber o que ia fazer. Juntava um dinheirinho, mas ninguém tinha coragem de viajar com ele (Rodrigo). A gente vendia uma galinha e dava a ele o dinheiro e ele ia viajando. Ele morava lá no Barreiro. Nesse tempo que ele começou, ele tinha casado naquele ano, que ele chegou do Paraná. Aí quando ele chegou que viu o povo tomando as terras. Ele tomou essa providência de viajar. E arrumou uns companheiros que foram Maroto, o primeiro, e Zeca de Bião. Mas Maroto já tinha sido furado de faca. Miguel de Mariano tinha dado uma facada nele. Já tinha problemas e só fez uma viagem. Quando ele chegou, logo ele morreu. Era difícil a caminhada, caminhava muito a pé para pegar o carro. Aí o Zeca foi mais ele em outra viagem. Mas ele estava viajando mais era sozinho. E nunca arrumava jeito de provar se ele estava interessado pela comunidade ou se era para ele sozinho. A justiça era desconfiada. Foi aí que ele arrumou Laurindo para ir com ele. Aí foi que eles arrumaram logo, da primeira vez. Logo da primeira vez, a Ruralminas ofereceu para eles um casa boa e uma fazenda lá para eles largarem de mexer com isso. Logo estavam interessados. Aí Laurindo aceitou isso. É bom largar isso pra lá. Já Rodrigo disse: “Laurindo, eu estou vindo aqui com dinheiro de todo mundo. Eu não vou fazer isso”. E não aceitou.
Da outra viagem, ele já não quis levar o Laurindo. Aí, quando ele foi, já combinaram que já estava mudando para a FUNAI, que era SPI na época. Quando ele mudou para a FUNAI, aí chegou o coronel Brox. Não era daqui não. Eu nem sei como esse homem chegou aqui. E ofereceu para ele arrumar o documento que ele sabia onde estava. Que estava no Rio de Janeiro. Aí ele foi e tirou uma cópia dele e trouxe e passou para nós. Aí foi que nós avançamos na luta da terra. Mas nós já tínhamos a história dela de cabeça. Como que ela foi feita. A história da doação que tinha. Eu deixei uma cópia dele lá em Montes Claros, quando eu morrer, se precisar, é só ir lá, que tem uma cópia lá.

  • CONTA UM POUCO DA HISTÓRIA DA DOAÇÃO DA TERRA QUE O SENHOR SABE DE CABEÇA. QUEM FEZ ESTE DOCUMENTO E POR QUE FEZ?
A doação foi feita na igreja de Matias Cardoso. E quem registrou ela foi Januário Cardoso Brandão, que era o escrivão do Cartório. Foi registrado lá por Dom Pedro II e Princesa Isabel. Porque aqui Dom Pedro II era rei, não era índio não. Ele que casou com Princesa Isabel que era índia. Princesa Isabel, na história do povo, ela era daqui.
Aqui os índios viviam aí pelo mato. Os índios ganhava menino aí em qualquer lugar. E tinha uma ara (um passarinho) que comia os meninos. Aí o povo não estava rendendo. Toda vez que a mulher ganhava um menino, só era chorar, a ara vinha e comia. Porque não tinha casa, ganhava na moita, igual bicho do mato. E os índios pelejava, pelejava, e não matava a ara. As armas eram badoque, flecha. Aí chegou esse homem, aí os índios contou o causo do passarinho que comia os meninos. Quando eles estavam conversando, aí uma mulher já estava ganhando o menino. E quando olhava, já vinha o bicho cantando: “Uá, uá, uá, uá”. Olha lá já vem o bicho comedor dos meninos. E ele disse: “Pode deixar vir que eu vou matar!” “Moço, será que você mata mesmo?” Ele estava com espingardinha e matou o bicho. “Moço, como você matou esse bicho com essa espingardinha?”. Aí todos ficaram felizes e alegres. “E agora como vamos pagar o senhor?” “Não, não quero nada, não”. “Quer sim. Pode escolher uma dessas índias aí. A que o senhor achar mais bonita, o senhor vai levar”. Aí deu ele uma índia. “Agora é uma coisa que eu vou dar para vocês. É o documento dessa terra”. Aí junta com a princesa Isabel e vai assinar o documento. Ela que assinou o documento. Aí foi para Matias Cardoso e fizeram esse documento. Januário Brandão era um cartório que tinha lá. Foi registrada a doação em todos os cartórios. Eles foram registrando. Até em Itacarambi era registrado. Ai Dom Pedro II saiu com Princesa Isabel e foi para uma escravidão de negro. E chegou lá e disse: “Quem quer sair dessa escravidão? Eu vou liberar vocês. Tenho um lugar para levar vocês”. Vixi, os negros todos doidos. Aí trouxeram os negros para aqui, junto dos índios. Os índios não tinham enxada, ferramenta, não sabiam trabalhar, e foi por isso que os negros vieram para cá. Veio negros e negras e os índios não quiseram mais casar com os índios, queriam casar só com os negros, porque os negros eram espertos, sabiam trabalhar. Foram eles que ensinaram os Xacriabá a trabalhar. Colocavam a roça pequena, mas plantavam de tudo, e eles trouxeram as ferramentas.

  • QUAIS ERAM OS TIPOS DE DOENÇAS E OS REMÉDIOS QUE CURAVAM?
De primeiro não tinha essa doençada que hoje tem. Nesse tempo, nem essa doença de gripe não tinha. A doença que era mais perseguida era a epilepsia, sezão, sarampo, caroção, catapora, eram essas as doenças mais perigosas, matavam mesmo. Aí o remédio que cortava a sezão era fedegozão com pucumã, não tinha essas outras não. Os remédios nossos eram só remédios do mato, a não ser a querosene, ruão e carmelão e a jalapa. Mas no mais era tudo do mato. Mas esses mesmos tem aqui no mato. No Custódio tem muita jalapa.

  • QUAIS OS TIPOS DE CONFLITOS QUE TINHAM AQUI DENTRO?
Naquele tempo não tinha isso não. E quando acontecia era no Ceará pra lá. Era um absurdo, mas, no mais, não tinha. O povo bebia cachaça, tombava para lá, às vezes brigava de murro. Mas no outro dia ia lá pedir desculpa para o outro: “Eta cumpadre, desculpa, como foi que aconteceu isso cumpade? Foi porque nós bebemos demais”. Ninguém brigava por terra ou por outra coisa. Quando um tinha uma rocinha, queria mudar, deixava para o outro. Deixava até a casinha. Não tinha apuro de nada como hoje tem. O povo hoje está com uma ganância. Comia junto, fazia um quibê (feijão cozido com angu) e todo mundo comia. Quando matava um tatu, era dividido. Uma caxumbada de fumo era dividido no grupo. Dividia mandioca, milho, feijão. De primeiro, plantava pouquinho, mas o povo era todo unido. Hoje tem fartura, mas a ganância e a pestividade estão aí.
De primeiro, se tivesse um doente, eles ficavam juntos até ele melhorar. E se morresse, eles ficavam juntos até os sete dias.

  • QUAL ERA O TIPO DE TRANSPORTE?
O transporte era o russinho. Eu mesmo não tinha nenhum jegue. Quando ia sair, dizia, vou lá pra fora. Mesmo de uma aldeia para outra. Carregava algodão e a mamona na cabeça. O transporte eram as pernas. Carregava algodão e a mamona para comprar o sal e outras coisas. Mas ninguém quase não importava com o sal não. Comia era sem sal mesmo. Também as pedras eram desse tamanho, mesmo tendo o sal, as mulheres não conseguiam quebrar. E aí comia assim mesmo. Comprava o sal era de quarto e libra.

  • TINHA DOCUMENTOS PESSOAIS?
Quá, que documento! Ninguém tinha documento não. Por isso que eu ainda não aposentei até hoje. Quando eu batizei, já tinha uns 15 a 18 anos, e quem que sabia que ano certo que eu tinha... Fizeram assim, no rumo. E eu pensei que estava fazendo a coisa certa. Até hoje estou novo. Os mais novos que eu já aposentaram e eu estou aí. De primeiro, ninguém sabia nem contar o mês e ano, não sabia de nada.
Quando uma mulher tinha um menino e outra pessoa perguntava que dia nasceu, falava que foi o dia que a porca de fulano pariu. Quem vai saber? Comparava.

  • QUAIS OS TIPOS DE ALIMENTOS QUE COMPRAVA E ONDE COMPRAVA?
Aqui, nós, quando as coisas faltavam, a gente ia pra Missões comprar ou em Itacarambi. A alimentação que nós mais comprávamos era o sal e o café. Arroz, ninguém nem falava nisso nesse tempo. Rapadura também não comprava. Temperava mais era com garapa, que cada um plantava, um pedacinho de cana para temperar o café. Temperava também com mel de abelha. Quando eles arrumavam um dinheirinho, era mais para comprar um pedaço de algodãozinho para fazer roupa. Levava o algodão naquele tempo, diziam negociata, mas era trocado pelo sal, o café e a roupa. A gente usava mais era bogaliana e algodãozinho, chamado algodão alvejado. Sapato, ninguém nem falava, a gente ia era com o pé no chão mesmo, ninguém não importava não. Ninguém tinha o costume de usar esse trem não.

  • E OS CASAMENTOS, ERAM NO PADRE OU NO CARTÓRIO?
De uns anos, de 60 para cá, o povo deu para casar no padre, que o padre andava a cavalo na reserva e achava aí algum lugar. Um finado Noliberto no Riachinho, o padre na época dele ia umas vezes na casa dele casar e batizar. Uns do Riachinho batizou no padre Zé Ramirinho. Veio no Riachinho na casa do finado Noliberto, que era o avô de Joaquim, que era o tio nosso. Era tio da minha avó. Era os caboclos mais antigos. Ele também era liderança naquele tempo. Naquele tempo que ele veio na casinha, veio batizar debaixo do pau lá. Veio celebrar umas missas lá no Riachinho. O primeiro cemitério é o do Riachinho, daqui da reserva, o primeiro cemitério foi esse. De primeiro morria pessoas aqui e levava as pessoas pra enterrar em Missões. Passava tudo aí na redona. Tinha um pé de pequi, chamava “descansa a rede”, e tinha outro que chamava “descansa a reida”. Já tinha os pontos de parada. A não ser aqueles que eram os maldosos, que enrechava com eles, esses enterrava cá mesmo, dobrava e colocava no pote. Índio mesmo e branco que entrava, eles pegavam e davam remédio para embebedar, aí dobrava e colocava dentro do pote com o fundo pra baixo, mas eram os que queriam invadir. E os que andavam também batendo com a língua nos dentes, eles faziam assim também. Se visse, tinha que ficar calado. Esses eram os crimes mais perigosos que tinha de primeiro.

ENTREVISTA COM SENHOR ADELINO

ENTREVISTA COM SENHOR ADELINO
Idade: 66 anos
Aldeia: Barra do Sumaré

Desd’o meu conhecimento, de 44 pra cá, eu conheci muitas coisas não tinha,: não tinha cacique, não tinha liderança, que é o representante que eles falam hoje; tinha era chefe. O chefe era um sozinho, mandava na reserva toda. As confusões era menas. Esse chefe sozinho resolvia tudo. E quando tinha qualquer uma coisa para resolver, ele ia em Brasília, ai nós ajudava ele, porque não tinha condições pra ir, tinha que ir a pé, então por água, aí cada um dava uma ajudinha conforme podia dar. Viajava um mês, dois, quando chegava, trazia qualquer solução. Não era viagem de todos os dia não, todo ano ia uma vez, ai ficava.
O chefe na época, que eu conhecia, era Germano, depois de Germano, passou pra Pedro, filho do Germano, e tinha um ajudante que era o que viajava mais, era Estevo Boca de vaca, o companheiro dele, que viajava na época. Depois disso, foi indo o velho Pedro, o chefe faltou, aí foi confusão pra nós, ficou sem chefe, aí tinha um moço muito sabido, não era nem índio. Era o genro do Pedro que era o chefe, pegou a doação e pegou trabalhano até que ele foi em Brasília ou em Belo Horizonte, um lugar assim, o povo descobriu que ele não era índio, aí tomou a doação dele e guardou por lá, aí foi ruim pra nós, aí ficou, ficou, aí agora nós foi sofrer.
Enquanto isso, os posseiros achou esta vaga e caiu pra dentro, comprano terras, aí não tinha mais a doação, não tava mais na aldeia, ai a doação ficou segura lá em Brasília, enquanto isso, nós aqui não tinha quem ia lá procurar.
Depois pareceu um, o Rodrigo, era um rapaz novo. Ele lutou por isso aí, lutou um bocado de tempo, e nós ajudava ele, egualimente ajudava o outro.
Juntava o povo da aldeia tudo e ajudava, ele era fraco, sufria e ia lá, até que liberou de novo, mas até liberar isso aí já estava cheio de fazendeiro. Os índios já tinha saído a maioria, que os fazendeiro já tinha escuraçado. Um posseiro comprava um harqueire de terra e cercava a área quase tudo, e foi indo assim, nós sofria para intimidar os povo que não queria vender, trazia polícia militar, fazia aquela pressão, os que tinha medo ficava fora, os outro enfrentava briga, e foi essa luta até que a gente venceu. Rodrigo tentou e venceu. Pra nós, ele trabalhou muitos anos. Até nessa época de hoje.
Aí, antes disso, tinha o Almerindo, que era o chefe do vendedor dos posseiros, vendia terra p’os posseiro e apoiava ele aí. A casa dele fazia com coisa que era até um tipo de um posada de policiamento. Era igual um tipo de quartel. Ali era polícia pra todo lado intimidando os índio, os índio afastava, mas depois chegava de novo. Achava que aquilo não estava certo, e chegava de novo lutano. Aí tinha época que nós, antes deles, chegava, nós juntava os índio todo mó de eles não entrar nas aldeias. A mó de não entrar nós tapava as boca nas estrada, eles destapava, e era aquela luta, até o finado Rodrigo mais Emílio, Lorindo e o finado Roso era os mais pressiguido. Nós tapava as estrada para eles não entrar, para não judiar com os índios, eles chegava e destapava, outras vezes botava a polícia para fazer nós destampar, aí a gente destampava e tornava com isso, não esmorecia, até que venceu. Tapava a estrada para os posseiro não judiar com os índios, que eles entrava para intimidar, e os índios saia tudo. Então, a gente tapava para eles não entrar, para não esguaritar os índios e sair fora da aldeia. Enquanto eles não entrava, todos os índio tava permanecendo na aldeia, aqueles que tinha mais coragem ia enfrentando e fazendo a defesa dos outros. Aí foi, até que os posseiros, com toda essa luta, até que teve um acontecimento dessa luta: o finado Roso morreu. Aí foi que tomou uma providencia que afastaram eles. Nessa época, num foi fácil não para afastar estes povos.
 
  • O ZÉ CAITANO, ELE ERA ÍNDIO OU NÃO ERA?
Não, ele não era índio, mas ele era genro do Pedro. Só estava tomando frente porque queria tentar ajudar, mas não aceitou não, sobre conviver podia, mas para mandar essa causa aí não podia.

  • NESSA ÉPOCA COMPRAVA ALGUMA COISA LÁ FORA, OU ERA TUDO AQUI DENTRO MESMO?
É, bom, comprava coisas lá fora, o que não tinha na aldeia, o que faltava na aldeia, comprava lá fora. A gente só convivia aqui dentro da aldeia, porque nesse tempo não tinha estrada, não tinha condução de fora para trazer nada, quando os índio precisava de alguma coisa, saia lá fora, ia à cavalo ou à pé, arrumava uma coisinha lá e trazia, mas assim, levava também muitas coisas que lá não tinha, que nem toicim, vendia lá e comprava sal, café, era o que comprava lá. Fazia a troca das coisinhas de cá por as de lá.
Nessa época, na cidade, comprava tudo que nós fazia, comprava algodão, comprava momona e lá nós comprava o café e o sal e outras coisas que estava precisano, é, era assim. 

  • TINHA CONFUSÃO ENTRE OS ÍNDIOS, ÍNDIO CONTRA ÍNDIO?
Não, não tinha não. Os índios, de premeiro, não tinha confusão que tem hoje. Os índios, de premeiro, tinha confusão com o pessoal de fora. O pessoal de fora que eles não conhecia. Com o pessoal de fora, qualquer coisa eles brigavam, porque eles estranhavam aquele povo. Eles não considerava o povo de fora igual o povo da tribo; ali era um grupo, aquele grupo era reservado. Agora chegava uma pessoa de fora, que às vezes fosse amigo de um que quisesse o bem, então, se ele agradasse um, estava agradando todo mundo e, se ele desagradasse um, desagradava todo mundo.
E hoje não está assim, o pessoal hoje já não está assim. O pessoal hoje já tem aldeia, aí que inimigo já briga um com o outro, às vezes por causa de pessoas de fora, que coisa! Tem horas que dá mais apoio uma pessoa de fora. E misturou tudo, isso aí não está sendo bom igual era não, porque aquele não está preservando o grupo, igualimente era não. O índio não tinha confusão com o pessoal de fora, aí de um tempo pra cá foi misturando, depois dos posseiros pra cá foi que teve essa revolta, índio contra índio, contra os de fora também, tá igual, a briga com os de fora está sendo pelo mesmo motivo. Hoje já não tá um grupo separado igualimente era não. De muito deferençou, não sei porque rendeu, mas o pessoal estava misturado com os branco, porque na época o branco e os índios viviam fora do branco, era os  grupos, só era índio no grupo do índio, hoje está tendo mais branco do que índio.

  • O SENHOR SABE POR QUE O XACRIÁBA FICOU MISTURADO?
Pra misturá veio pessoal que não era índio, veio da Bahia, veio de Cochá, veio de vários lugares misturando com os índios. Chegava ali, os índio, o índio ia agradando aquele grupo ali, os índio já passava a ser amigo. Naquilo foi misturando, aí, depois que misturou, outros chegava saber notícia da área, já vinha era assim.

  • E AS ROÇAS, COMO QUE FAZIA?
Aquela roça colocava e plantava feijão, abórbora, mandioca, plantava milho, batata e vevia disso aí. Roçada tinha bastante pessoal. Gado, gado, os índio não criava, quem passou a criar gado foi o pessoal que chegou. Na época, chegava, misturava, aí ia criando. Mas o índio mesmo não criava não. Aí depois que foi misturando os índio, foi misturando e comprando gado. Até que chegou a época que é hoje, que tem fazendeiro de todo tipo, o gado foi criado quando o pessoal de fora começou a chegar aqui, antes ninguém criava gado não. Os primeiro criador de gado aqui foi os não índio. Aí os índio foi vendo aquilo e foi aprendendo, até teve a oportunidade de criar tombém. Mas veio criar memo depois dos posseiros pra cá.
E outra! Aqui dentro da reserva não tinha um índio que tinha carro, não tinha nada, não tinha casa boa, hoje o índio está tendo casa boa e carro e tudo, o índio está sendo dono de carro e de tudo, depois dos posseiros pra cá, antes disso aí não tinha nada, mes aqueles que podia mais comprava era um cavalo, mas era! Mas era alguns, os outros andava mais era a pé, era mais a pé, rodava tudo a pé, não tinha cavalo não, alguns tinha, mas rodava mais era a pé.

  • COMO ERAM AS CASAS?
As casas eram de paia, casa de inchimento coberta de casca de pau, tinha um capim sapé, era o capim cobridor de casa, cobria casa de paia de coco, as casa que cobria era desse aí. Tirava casca de pau e cobria as casa, aquilo era bom.
As panelas era de barro, os pratos de barro, aquelas candeinha de lumiar era feita de barro, ponhava um pavi’i dentro, moiava com azeite de momona, aquilo fazia festa, tudo com essa candeia, lumiava a festa todinha com essa candeinha de barro com pavi’i de algodão molhado com azeite de momona. Hora que dava um vento, pagava tudo, daí vinha com um tição cendeno.
A sonfrona de toque era uma sonfrona de oito baixo, falava Pé de bode, aí tocava umas violas, umas caixas de couro, batendo, e aquilo era uma harmonia. O povo cantava e dançava, e era três dias de festas naquela harmonia. Nessa época, dessas festas aí, a pinga tinha, mas não era toda festa que arrumava. A pinga tinha, mas era muito difícil; os ‘lambiqui era muito longe e acontecia que era um sozinho, a pessoa arrumava um litro de pinga e fazia 20 litros de vinho de sambaíba. Tirava a casca lá do pau do mato, e fazia o vinho, já tinha o pau preparado para fazer vinho. A pessoa já tirava e cozinhava, fazia aquele conzimento e temperava na pinga, aí fazia o vinho e todo mundo bebia, viche! Era uma harmonia doida, o vinho era gostoso, tinha vinho de jatobá, tinha as plantas de fazer as bebidas. Tinha pinga mesmo, o pessoal pegava as pingas, aí bebia, não era como hoje não, eles trazia uma lata, tinha 20 litros, eles ponhava lá dentro do terreiro, cada um chegava lá com uma cuia, despejava um pouco e todos bebia, mas todos que bebia tinha que ter sua cuia, não ia beber na cuia do outro não, que ele não dexava! (risada). Quem quisesse beber, tinha que levar a cuia, se não levasse, não bebia, porque não tinha onde beber, não tinha vazia. Hoje não, um copo, o pessoal de uma festa bebe num copo só, e no tempo dos índios lá, não bebia não. Era amigo de todo mundo, mas cada um tinha sua cuia de beber. 

  • E AS FESTAS?
As festas de casamento, quando casava uma moça, era três dias de festa. E quando era um festejo assim de um santo, aí era um dia pro outro mesmo. Aí quando era uma novena, como o festejo de Santa Cruz, era onze dias de festa, todo dia festa, todo dia festa, começava dia 23 terminava no dia 03. E o festejo das Noites no mês de abril, que começa dia 23 e termina no dia 03 de maio. São dois festejo. O festejo de Maria é 31 dias de festa, começa no dia primeiro termina dia 31 de maio, é trinta dias de festa. Essa ainda tem na aldeia do Sumaré e no Brejo ainda tem. Tombem só está existindo essas. Ainda tem os festejos de reis das folias; que eu conheço desd’o começo, as Folias de Reis. As Folias de Reis era festejadas desd’o começo. 

  • E A SAÚDE, QUAIS AS DOENÇAS QUE TINHA MAIS, E QUAIS REMÉDIOS CURAVAM?
É, a doença que mais prejudicava neste tempo, que a gente já tinha medo dela, era o sarampo, varíola, catapora, essas aí e a febre amarela, tinha uma maleita, essas aí era as doenças que existia de primeiro, só era essas era as perigosas, só era essas. Mas aí a gente já sabia do remédio e tinha as ervas armagas, as pessoas ia lá e fazia uma garrafada, tomava e sarava a cezão.
E a de sarampo e varíola já tinha o remédio preparado, também as pessoas não procurava remédio para essas doenças, nem chegava a pessoa adoecer, a pessoa já corria lá com o remédio e já fazia e sarava, o único remédio que nóis procurava fora era pra febre amarela, era uma pírula contra ela, era uma pastinha preta. Mas ela era feita do remédio do mato mesmo. Essa nós comprava lá fora, também era só. Os outros nós fazia aqui no mato. Esses aí já cortou também e acabou e nós continuamos no mesmo que estamos até hoje. O remédio nosso era esses. 

  • QUANDO MORRE AS PESSOAS, HOJE MUITAS PESSOAS NÃO GUARDAM LUTO. E ANTIGAMENTE?
De primeiro, quando morria uma pessoa, às vezes o pai da casa, no sétimo dia, todo mundo vestia de preto, até a casa era coberto de luto. Se fosse o homem, ponhava o luto na porta da frente, se fosse a mulher, ponhava o luto na porta da conzinha. E os parentes, a mulher era luto fechado um ano, depois de um ano, aí ela já podia vestir uma blusa só branca, com um ano podia vestir só branco, de vermelho ela não vestia mais nunca. E a parentaia, luto fechado 6 mês, os parentes era uma divisa de 6 mês; primo, sobrinho, tudo era uma tira preta na camisa, era a divisa; e a mulher, um ano de luto fechado, os irmão, um ano de luto fechado. E aquelas pessoas, sobrinho, que era a divisa. E quando morria uma pessoa, passava um ano ou dois anos, todas vezes que encontrava a parentaia, que alembrava, todo mundo chorava. E hoje, nem em roda da pessoa que morre ninguém esta chorando. De primeiro, só era encontrar, chorava. O luto hoje é alguns que põem. De primeiro a roupa era tingida de lama. Hoje a gente vai contar pro povo, acha que é mentira. Mas é verdade. 

  • MAS TINHA A LAMA PRÓPRIA?
É, tinha a lama própria, é o mussambé, para tingir a roupa.
Na época, a Caboca, antes dos posseiros, antes dos fazendeiros tomar conta da área, tava aqui na reserva.  Ai a Caboca afastou. O que afastou ela mais foi o povo de fora, o povo de fora deu para invadir a área, ela foi afastando. Mas, de premeiro, quando tinha só índio, ela visitava todos os índios que tinha na aldeia, ela chegava, ela subiava, a gente já sabia onde ela estava. “Onde que a Iaiá está? Tá em tal lugar”. Ela avisava onde ela estava na aldeia, ela subiou que ela tava aqui! Outra hora ela apresentava as pessoas, todo mundo dava notícia dela. Depois que foi chegando o pessoal de fora, foi tomando conta, ela foi afastando.
Nessa época, se entrasse uma pessoa de fora, ela pegava e dava uma surra nele. Se entrasse, ele não saia, só era entrar sem ordem, levava uma surra e saía. Até os primeiros carros que entrou aqui, os carros de invasores de terras que tentou entrar duas vezes, não entrou. Chegava no Juco, ela segurava o carro e não rompia, eles achava que tava atolado, mas o carro não rompia, cavava o chão e tudo, mas o carro não rompia. Pra trás voltava, mas prá cá não. Iaiá segurava ele para não entrar na reserva, aí outro veio de lá e tentou passar, ele passou, mas não rompeu nadinha e quebrou a perna, quebrou tudo, aí voltou, mas só que não conseguiu romper não. Quando ele estava, tinha a lapa tapada, coberta, até hoje essa lapa tá coberta, mas um coqueiro de três galhos, que ninguém via ele lá, só algumas pessoas de ciência que conseguia ver ele. Hoje não, todo mundo vê ele lá, de primeiro não via ele não, era invisível, hoje, depois que o povo saiu com umas certas coisas, na saída dela, acabou o encanto dela, exemplo: o coqueiro de três gaia. Todo mundo que vai lá vê ele, todo mundo dá notícia dele. Fica na aldeia lá no Brejo, a lapa tapada tombém fica é lá; mas essa ninguém não vê ela não, ainda é encantada.
Vai mudando tudo, vai passando o tempo, o povo vai mudando, o jeito do povo. Os índios é unido, os que é índio, ele não tem orgulo não. Hoje o que eu acho deferente é o outro, que está desmantelando o índio. O índio desmantelou, mas o índio foi com a política, é depois da política, separou o índio. O índio não pode ter grupo separado, o grupo de índio é um sozinho. Hoje, o índio está separado em todo grupo, então é isso aí. O CIMI entrou ai tombém, que já fez muita coisa. A primera briga que fez, o índio não tinha esse intenção de brigar, foi o CIMI que fez a pressão, aí começaro essa violência, foi, mais foi no tempo que o CIMI deu aquela cobertura, que tinha pessoa que já tinha influência e aí achou aquela cobertura. Aí foi o CIMI. A pressão sobre briga, às vezes fez um lado, mas por outro não fez. Foi bom por um lado, mas por outro já não foi, porque o melhor mesmo é a união. Depois disso pra cá, o CIMI já ponhava que tinha que brigar mesmo, as vês tinha índios que não queria brigar, aqueles que já revoltava com aqueles que não queria, já foi dando certo, não foi uma coisa assim de uma vez, mais divagar, divagar, desmantelando aos poucos, às veiz uma casa tirando um tijolo nela, hoje a gente não dá fé, mas vai tirando três, quatro, aí a gente vê que está desmantelando, não desmantela de uma vez, é divagar. Então se não tivesse agressão à vida dos índios, estava o mesmo que era, agressão vivida e nem a separação de político está separando o grupo do povo. 

  • E COMO ERAM OS TIPOS DE ROUPAS E CALÇADOS?
Os carçado de primeiro era o índio mesmo que fazia. O índio vei calçar e vestir e alimentar de alimento de branco foi depois desse tempo dos posseiros pra cá.
Antes disso aí, o índio calçava os calçados era chinelo de couro. Tinha aqueles, não era todos não, aquele que era mais experiente, pegava os couros e punhava aquelas correias e fazia o chinelo, outros costurava e fazia, ficava era bonito. Aquilo era encomendado, fazia e vendia chinelo para aquele povo todo, ia pra festa e tudo, aí, depois que os brancos foi chegando, os não índio foram misturando, vieram com os sapatinhos pretinho lá de fora, outros amarelo, aí foi achando bonito e foi calçando tombém, aí até que costumou, mas muitos ainda tem as precatinhas de couro que fazia. Eu mesmo ainda faço, não chamava não era de chinelo não, era de precata, o sapato não era sapato, era botina; das mulheres era sapatina.
A cama era todas de madeiras e dizia de cate. Hoje, eu ainda considero as camas que o índio faz de cate e as que é feita lá fora que o branco faz pode ser a mesma cama, mas o nome é outro. 

  • E AS ROUPAS, ERAM TECIDAS AQUI MESMO?
É, as roupas era tecida aqui mesmo, as mulheres pegava o algodão, fiava, já tinha a roda de pau de fiar, fiava e fazia aquele novelão de linha. Outra hora fiava no fuso tocado pela mão e a roda é tocada pelo pé e a mão, na roda fazia a linha de urdir, de fazer o tamanho de quantas metragem de pano, quantas varas de panos ele queria, não era metro não, era vara. E o fuso ia fiar para tecer aquela quantidade. Era dois tipo de linha, ai fazia roupa para homem, pra mulher, fazia cuberta para embruar, a roupa de casa fazia tudo no tiar, vai tecendo até fazer o pano, era difícil, só comprava pano lá fora, aqueles mais forte, que tinha um dinheirinho, os que não tinha, vestia a roupa que eles mesmo fazia, é! Era bonita, fazia branca, fazia de listrinhas, ia na festa e dançava a noite inteira (RISADA)!

  • COMO QUE FAZIA AS LISTRAS DO PANO?
As listras eles tirava a tinta anil, que é uma erva que chama anil, tirava de corante uma tinta mais bonita, assim azul, conforme a cor da tinta, se quisesse a tinta verde anil, se quisesse preta era de corante, se quisesse vermelha era de aruncum. Já tinha as tintas de tingir, se quisesse fazer as roupas tudo de azul, fazia, ponhava numa tinta só, se quisesse de vermelho tombém fazia, que era o oruncum, e era assim que o pessoal vivia, assim.

  • HOJE USA SHAMPOO, CREME DE CABELO, E ANTIGAMENTE?
De primeiro, o pessoal aturava cente e tantos anos, tinha vezes que nem um comprimido não tomava, bebia era uma erva do mato, sentia alguma coisa eles já sabia a erva que tinha lá, rancava e bebia, ele morria com centes e poucos anos, não tinha um fio de cabelo branco na cabeça. Hoje as pessoas, deu de vinte anos, já está com a cabeça branca. Tombém o que eles usava no cabelo era: eles pegava, tirava o óleo da momona e cebo de carneiro e flor de maria angerca, aí fazia aquela pomada, usava de porco e cebo de gado, gordura de porca, daqueles porcos bem preto cabeludo, fazia aquela combuca daquela gordura e batia bem batidinha, tirava a fulor de maria anjerca e ponhava dentro, viche! Aquilo era um perfume, que eu vou falar! O perfume era esse, ninguém comprava perfume lá fora não, o perfume era caçar era as ervas, as fulôs das ervas para perfumar, aquele era um perfume que não acabava, perfume muito saudável que eu vou falar! Não era comprado que nem hoje não. Hoje o pessoal largou o perfume da natureza, é, estão comprano lá fora, por isso que os cabelos estão caindo tudo. De premeiro não caia cabelo não, o cabelo era seguro, não alvejava. É, era assim, o remédio era esse e lavava era com sabão de dicuada e casca de mutamba.
Quando a pessoa tava com febre ou tomasse algum remédio ou a mulher ganhasse nenê só lavava a cabeça com conzimento do mentraste, podia lavar, não sentia nada. Hoje em dia a mulher não faz banho de nada, banha é no chuveiro lá (risada), com shampoo. De premeiro não tinha nada de shampoo não, banhava era no conzimento do mentraste. O perfume da pomada, todo feito com azeite e flor da angélica. 

  • CIÊNCIA DA LUA
A ciência da lua, de primeiro, quando nós conhecemos aí nós íamos trabalhar. Nós olhava a noite, e saía para plantar naquela roça o mantimento que não tinha que ver a lua. Aí, quando a lua estiver minguante, para algumas coisas é boa, e pra outras não. A lua minguante é boa para plantar feijão, porque ele vai sair mais forte, mas só quando ele grana, aquele mantimento, que ele dá logo, se não ele não atura, caba logo também.
Se a pessoa quiser mantimento para guardar, tem que plantar na crescente até a cheia, aí o mantimento pode guardar, 2, 3, até 4 anos, ele não estraga. Se plantar na lua fraca, logo ele estraga, dá logo, mas estraga logo também. E se a pessoa tirar qualquer tipo de madeira com a máquina, na conserva para durar muitos anos, então tem que consultar a lua. Ele tem que tirar é na crescente até a cheia, que está boa. Se quiser, pode tirar a madeira mais fraca que existe, se tirar ela no dia em que a lua está cheia, conta três dias, aí chama escuro. Essa madeira pode ser a mais fraca que tiver, mas dura muitos anos. E aquela que já é forte, não acaba mais. É conforme a lua, e a madeira sendo boa, se tirar na lua ruim, ela estraga, racha e dá gurgulho. A tendência é acabar. Já ela pode ser fraca, mas tirada na lua boa, ela não acaba não.
Até nós mesmos, o povo hoje que não tem mais ciência, mas de primeiro, nós só cortava o cabelo na lua boa, mó de fortalecer o cabelo e o juízo, mesmo o corpo da pessoa. Se cortar o cabelo de qualquer criatura, gente ou qualquer animal na lua minguante, ele acaba, enfraqueia, ele não rompe nada, não pega carne, enfraqueia, mesmo homem ou mulher. Ele pode ter saúde e se ele começar a cortar o cabelo ou aparar um pouquinho na minguante, ele logo acaba. Na lua crescente para cheia, logo ele fortalece e fica forte e tudo. Só para o pessoal ver, tem uma pessoa, pode ser uma criança mesmo, tem muitas famílias que tem 3, 4 filhos, e outros tem 10. Tem uns que é forte, num dá trabalho, outros é perrengue, fraquinho, pode ver que ele nasceu ou foi gerado no minguante. Não tem carreira pra ele não. Ele nasce fraco e morre fraco. Agora a pessoa gerou ou nasceu na crescente pra cheia, aí ele é forte para o resto da vida. A lua é que governa tudo. O povo acha que não, mas a lua manda em tudo, tudo, tudo. Tudo é mandado pela lua, não tem nada que não é pela lua. O remédio aqui do mato mesmo, nós bebe, essas pessoas que toma remédio do mato não ocupa médico e vive cento e tantos anos bebendo remédio do mato e da natureza. Mas eles não ranca remédio todo dia, tem as épocas de arrancar o remédio. Dizia: “eu vou querer um remédio, e eles diziam: quando a lua tiver boa, eu vou arrancar. Aí, na hora que a lua estava boa, eles arrancavam e traziam o remédio. Se a pessoa procurasse o remédio e não tivesse arrancado porque a lua não estava boa, pois eles não davam aquele remédio, tinha que esperar a lua ficar boa. Hoje, as pessoas pensam que o remédio qualquer hora pode arrancar. O remédio preparado na lua ruim fica ruim, não faz efeito, por causa da ciência, tudo quanto é tem que ter ciência. A pessoa que não tem ciência vive mais mal. Deus deixou para dá tudo certo, né?